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O relacionamento humano poderia ser resumido nos enganos e auto-enganos. O tempo todo enganamos aos outros, mas, principalmente, enganamos a nós mesmos.
Não vou me deter no primeiro porque, praticamente, todos são sabedores que enganamos aos outros por motivos mil, mas sempre utilizando um único e primordial fator: o enganado o é porque desconhece algo que o enganador sabe. Já o auto-engano sustenta-se na capacidade que temos de acreditar que somos aquilo que não somos.
O auto-engano é uma pequena válvula de escape que a natureza nos presenteou, para que não pirássemos logo de cara diante das situações mais adversas. Ele encontra-se em grande parte nos julgamentos e opções que fazemos cotidianamente, nas nossas paixões amorosas, nossas crenças religiosas e políticas e, principalmente, nos nossos sucessos e fracassos profissionais.
O problema surge quando o utilizamos de forma excessiva. Pois o abuso do auto-engano costuma resultar em fracassos e, o que é pior, em tragédias. Vide o exemplo de Antônio Conselheiro no Século XIX no sertão nordestino brasileiro. Se não acreditasse ser um enviado de Deus, não teria levado tantas pessoas à morte em Canudos.
Outro fator a se considerar é que estar auto-enganado é a melhor maneira de enganar ao outro. Porque as mentiras que contamos aos outros geralmente são escolhidas e muito bem pensadas. Mas as que contamos para nós mesmos nunca o são.
Por isso, até mesmo os apaixonados estão fadados ao desencanto. Mesmo parecendo estar protegidos das mazelas desse mundo, inebriados que estão pelo fogo do amor. Porque se nada de mau os alcança, encontram-se condenados à realidade pelos seus próprios enganos.
O lado positivo do auto-engano é que, sem ele, seria impossível contar com o improvável, com a obra do gênio e com o novo, fator essencial e renovador de nossas vidas.
Enquanto isso, seguimos enganados enganadores. Agarrados sempre às mesmas e velhas mentiras. Talvez seja porque fora da gente tudo seja apenas ilusão. E… Dentro da gente não será muito mais? 30.04.05
Obs: RONALDO TEIXEIRA @espantalholirico cearense de Iguatu, radicado no Tocantins há 50 anos, reside em Palmas. Foi coordenador de Arte e Cultura da Secretaria de Cultura de Gurupi por 8 anos. Atua no meio jornalístico há cerca de 28 anos. É bacharel em Comunicação Social – jornalismo. Autor dos livros MERCADOR (poesia/1998), SURTOS & SUSTOS (crônicas 2008); PARA QUE O FANTÁSTICO NÃO SE AUSENTE, (poesia/2012); e TRANSWEBHUMANAS – VINHETAS, METATRATADOS & BALADINHAS POÉTICAS (poesia/2019) pela Editora Kazuá (SP).