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1 – DOMINGO DO PEDIDO DOS DOIS IRMÃOS
Marcos 10,35-45

É muito comum, quando se pensa em Pastoral Vocacional, cuidar apenas de recrutar adolescentes para serem “padres”. Apresenta-se a eles um modelo acabado, culturalmente estabelecido, onde valores estético-culturais, que dão status, encantam algumas mentes juvenis:

– o jovem começa a imaginar-se no altar, paramentado a rigor, falando para um auditório repleto e verticalizado…

– mais tarde, quem consegue chegar lá, não raro, chega com uma tal consciência dos seus “poderes sacerdotais”, que até a voz se faz impostada, e toda a sua postura é de mando e superioridade, muito embora sejam pessoas ainda bem jovens e inexperientes…

Como poderia ser diferente se a gente pensasse, antes de tudo, em uma Pastoral de Comunidades, onde, em grupos de tamanho humano, as pessoas se olhassem nos olhos, se evangelizassem compartilhando o concreto da vida cotidiana, crescessem no gosto da participação, como “pedras vivas” a se edificarem como “templo vivo”, conscientes de seu “sacerdócio”, oferecendo suas vidas como “sacrifício espiritual”, em comunhão com Jesus Cristo, como propunha Pedro, o primeiro papa (1Pd 2,4-10). Aí, sim, numa comunidade onde todos e todas são vocacionados, fica mais fácil identificar alguém que se destaque por sua maturidade, sua capacidade de escutar, de educar na fé, de animar, de articular, de se dedicar ao crescimento das pessoas e da comunidade. Aí, sim, dá para “impor as mãos” sobre alguém que, com certeza, terá entendido a conversa de Jesus com Tiago e João e os outros dez.

E numa Comunidade de gente que serve, as celebrações terão uma expressão muito mais circular, participativa e criativa. E nosso canto terá o sabor do Salmo 133: “Oi que prazer, que alegria, o nosso encontro de irmãos (ãs)!”.

Vamos sonhar com um modelo de Igreja muito mais circular, que possa servir de exemplo e inspiração para um novo tipo de Sociedade que prime por organizar-se na base da justiça e da igualdade, do espírito de serviço e da solidariedade. Comecemos logo, antes que seja tarde demais, a pensar qual a nossa contribuição, como cristãos e cristãs para as mudanças políticas, de olho nas eleições de 2022! Que nos inspire o que hoje nos diz Jesus!

 O ANO QUE QUE VEM, 2022…

Poderá ser o ANO “D” da Democracia, ou não… O AN0 “E” da Esperança de um Brasil que retoma o caminho das “POLÍTICAS SOCIAIS”, por sinal, tema De todas as Campanhas da Fraternidade… O dia “I”, da Inclusão, de um Governo que cuida, a todo custo, de dar vez, acesso e oportunidade para quem está condenado à marginalidade, ou não…

 Como cantou alguém, um dia:

 DEPENDE DE NÓS      Ivan Lins

 Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo pra um mundo melhor

 Depende de nós
Que o circo esteja armado
Que o palhaço esteja engraçado
Que o riso esteja no ar
Sem que a gente precise sonhar

Que os ventos cantem nos galhos
Que as folhas bebam orvalhos
Que o sol descortine mais as manhãs

 Depende de nós
Se esse mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá

2 – Domingo do cego que queria VER!
Marcos 10,46-52

A caminho de Jerusalém, feito cegos que se recusam a ver, lá vão os doze, que, ao longo de três anos, algumas coisas devem ter aprendido, mas resistiam a aceitar o que era óbvio para seu Mestre: a lógica da cruz.
E aí estava a essência do Reino por ele anunciado: quem não entendeu que as coisas só mudarão radicalmente neste mundo quando a lei suprema for o amor de quem dá a vida pela vida dos demais, não entendeu nada da pessoa, da vida, da ação e do discurso de Jesus.
Por providencial coincidência, no meio do caminho, alguém que pede esmolas á beira da estrada, ouve falar de Jesus e grita com toda a sua força por socorro: é um cego que, a todo custo, quer ver.
E Jesus manda chamá-lo para perto de si, escuta o seu pedido insistente e faz com que as coisas aconteçam de acordo com a fé e a determinação de Bartimeu.
Curado, o cego vai atrás de Jesus…
Será que os doze entenderam a lição?…
E nós, aqui e agora, com que anseios, com que fome e sede viemos ao poço, à refeição, ao encontro com o Ressuscitado?…
Nosso canto expressará alguma coisa do que foi o grito de Bartimeu?…

Todas essas perguntas nos chegam com maior contundência em dias de debate sobre o relatório da CPI da Pandemia, que será votado em breve no Senado… Elas precisariam ecoar qual trovão em todos os recantos do país, nos ouvidos da Comunidade Cristã, primeiramente… Até onde vai nossa disposição de entender os “sinais dos tempos?… Qual o grau de nossa cegueira e da nossa vontade de sermos curados?… E precisa VER, e, à luz da Fé Cristã, avaliar, JULGAR, mas sobretudo, arregaçar as mangas e AGIR!… De nós, mais que de qualquer outra de gente, se espera uma postura de fidelidade à causa do REINO, anunciado por Jesus, que precisa acontecer “assim na terra como no céu”!

Estamos chegando à reta final do Ano Litúrgico, e, logo mais, de um novo ano civil… É tempo de dar balanço em nossas vidas, antes de começarmos uma nova etapa… Vem aí o NATAL e um ANO NOVO!… Para além das ilusões do consumismo, teremos um sonho maior, capaz de dar a estes eventos e à nossa própria vida, um sentido maior?…

Precisamos responder a estas perguntas individualmente, mas também, como Grupo, como Equipe, como Movimento, como Classe Trabalhadora, como Comunidade Cristã… Uma boa roda de conversa pode coroar o ano que termina e inaugurar da melhor maneira o ano que começa… Sejamos generosos e responsáveis. Nossa vida, junto à vida de todo o povo, sobretudo do povo empobrecido e da Classe Trabalhadora, é o que está em questão… E nossa responsabilidade aumenta diante de um ANO ELEITORAL!

3 – Domingo dos DOIS MAIORES MANDAMENTOS
Marcos 12,28-34

Estamos chegando ao final de mais uma jornada. Mais um Ano Litúrgico se aproxima do seu desfecho. É tempo de repensar a vida, senão, à luz do que a catequese de um tempo nos fazia decorar como “Os Novíssimos do Homem” (Morte e Juízo, Inferno e Paraíso), com certeza, à luz do que Jesus nos propõe como a essência da sua proposta religiosa.

Primeiro, ele é desafiado pela pergunta de um teólogo de boa vontade, sincero e honesto: qual seria, a seu ver “o primeiro de todos os mandamentos”. Jesus responde simplesmente com o que, há séculos, todo bom israelita repetia todos os dias como “profissão de fé”. Algo de muito simples, de muito claro e essencial: “Deus AMOR, nosso Deus, é o único Senhor!” Importa amá-lo com todo o coração. Mas importa, igualmente, amar o próximo como a si mesmo. Aí está tudo! O “doutor da Lei” o elogia e neste elogio explicita tudo quanto Jesus queria ouvir de sua boca: a prática dessa fé e desses dois mandamentos “supera todos os holocaustos e sacrifícios”. E Jesus, por sua vez, sentencia: “Tu não estás longe do Reino de Deus!”.

E nós aqui, escutando esta conversa de dois mil anos atrás, somos convidados a rever o ano que passou: Nossa prática religiosa, ao longo deste ano que finda, consistiu, sobretudo em quê?… Investimos o tempo todo no essencial ou andamos perdendo tempo e energias com os acessórios?… Nossas celebrações e nossos cantos têm sido a expressão honesta de amor ao Deus-Amor e de amor ao Próximo… duplo amor que de semana a semana veio se aprofundando?…

Essa pergunta feita a nós num ano extremamente desafiante, com mais de 20 milhões de afetados pela pandemia e mais de 600 mil que perderam a vida… 14 milhões de desempregados e uma multidão sem conta de famintos… todos e todas, vítimas, até agora, impunes de um governo assassino e de uma economia de morte… Excluídos e Excluídas, gente dos Movimentos Populares, Sindicais e Políticos, saindo às ruas para protestar contra os malfeitos dos poderosos e reivindicar os direitos da Classe Trabalhadora… Onde estivemos nós, até aqui?… Onde estaremos nós, daqui por diante?… Diante de tudo isso, como temos vivido e como vamos viver o grande Mandamento do amor ao Deus-Amor, que quer de nós, antes de tudo, que façamos sua vontade… do amor as pessoas que de nós precisaram, e das que precisarão, antes de tudo, de nossa efetiva solidariedade?… E, no fim das contas, que nos dirá Jesus, que estamos perto ou longe do Reino de Deus?…

A Paz, fruto da Justiça e do Amor

“A paz não é mera ausência de guerra, nem se reduz a um equilíbrio de forças adversárias nem se origina de um domínio tirânico, mas com toda a propriedade se chama obra da justiça (Is 32,17). É fruto da ordem, inserida na sociedade humana por seu divino fundador e a ser realizada de modo sempre mais perfeito pelos seres humanos que têm sede de justiça. Em seus fundamentos o bem comum do gênero humano é regido pela lei eterna. Contudo, nas contingências concretas, está sujeito a incessantes mudanças com o decorrer dos tempos. Por isso a paz nunca é conquistada de uma vez para sempre; deve ser continuamente construída. Além disto, sendo a vontade humana volúvel e marcada pelo pecado, a busca da paz exige de cada um o constante domínio das paixões e a atenta vigilância da autoridade legítima.

Isto, porém, não basta. Aqui na terra não se pode obter a paz a não ser que seja salvaguardado o bem das pessoas e que os seres humanos comuniquem entre si, com confiança e espontaneidade, suas riquezas de coração e de inteligência. Vontade firme de respeitar a dignidade dos outros seres humanos e povos, ativa fraternidade na construção da paz, são coisas absolutamente necessárias. Deste modo a paz será também fruto do amor, que vai além do que a justiça é capaz de proporcionar. Pois a paz terrena, oriunda do amor ao próximo, é figura e resultado da paz de Cristo, provinda de Deus Pai. Seu Filho encarnado, príncipe da paz, pela cruz reconciliou os seres humanos com Deus. E recompondo a unidade de todos em um só povo e um só corpo, em sua carne destruiu o ódio (cf. Ef 2,16; Cl 1,20.22), e exaltado pela ressurreição, infundiu nos corações o Espírito da caridade (do amor).

É a razão por que todos os cristãos (e cristãs) são incessantemente chamados a que, vivendo a verdade na caridade (no amor) (cf. Ef 4,15), se unam aos homens (e mulheres) verdadeiramente pacíficos, a fim de implorar e estabelecer a paz. Movidos pelo mesmo espírito, queremos louvar calorosamente aqueles (e aquelas) que renunciam à ação violenta para reivindicar seus direitos e recorrem aos meios de defesa, que de resto estão ao alcance dos mais fracos também, contanto que isto não venha lesar os direitos e deveres de outros ou da comunidade.

(Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II, 07.12.1965, No. 78).

Você se sente um/a agente de paz?…
Em nome do AMOR, você se tem comprometido com as grandes causas da Justiça, com o Bem Comum, a luta pelos Direitos da Classe Trabalhadora?…

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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