Taciana Valença 18 de outubro de 2021

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Entre um e outro engarrafamento o jeito é olhar os outdoors.

Entre eles, propagandas dos colégios com rostos de jovens “vencedores”. Primeiro lugar em Medicina, segundo lugar em Direito, terceiro lugar em qualquer coisa que o valha.

Fico cá com meus botões imaginando que mundo chato é esse. Que cobrança para sermos algo, para nos tornarmos os melhores. Às vezes me parece que o mundo dá uma verdadeira aula de imbecilização.

Sim, tem que estudar, primeiramente, gostar de ler, “segundamente”, entender o que lê, “terceiramente”, interpretar e saber tirar suas próprias conclusões.

Decoreba não forma um cidadão pensante e quem não pensa apenas segue o traçado. Estudar sim, sempre. Aprender todos os dias alguma coisa, mas, antes de tudo, compreender o processo mundo e reagir a ele como seres humanos.

Ninguém ensina a ninguém a ser gente, a ser amigo, a ser companheiro, a ensinar ao outro e não fazer dele sempre o seu concorrente.

Alguém há de dizer: já se nasce bom, já se nasce ruim. Não! Valores são ensinados e prioridades também. Antes de tudo devemos querer que nossos filhos sejam humanos.

Eu detesto essas propagandas. Mas confesso que já coloquei meus filhos nesses colégios e até um deles foi parar em um outdoor também. Efeito manada, efeito cilada, efeito mundo de concorrentes e não parceiros.

Que merda, hein?

É merda mesmo, poeta diz merda quando não há adjetivo bonitinho para definir o mundo em que vivemos.

Na minha época a gente fazia esportes, brincava na rua, conversava nas calçadas, debaixo dos prédios. A turma descia para conversar. Estudava sim, claro, mas não assim, obsessivamente, concorrentemente, semgraçamente.

A gente encontra amigos antigos que exibem filhos como troféus, vencedores, os fodas. Não sei se um dia perguntaram se eram felizes, se não eram apenas robôs seguindo o sonho dos pais, de serem mais para terem mais, seguindo as regras do mundo.

Mundo que forma médicos para ficarem ricos e nem pensar em atender aos pobres. Mundo doente onde os que sentem são tidos como comunistas, loucos, esquerdopatas. Mundo doente onde pobres defendem seu próprio fim, se condenam, se recolhem e se deixam dominar por psicopatas.

Mundo doente onde pessoas que moram em um mesmo prédio não trocam duas palavras e quando se cruzam é quase um sacrifício dar um bom dia, quando dão.

Mundo doente de pessoas doentes e vazias que jamais entenderão que somos todos uma coisa só e que só evoluiremos quando entendermos isso.

Mundo doente onde quem sente precisa ser tratado e quem passa por cima de tudo para se dar bem é respeitado.

Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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