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Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor;
Que conhece o que é verdade;
O amor é bom, não quer o mal;
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade;
Tão contrário a si é o mesmo amor…
É só o amor, é só o amor;
Que conhece o que é verdade.
(Trechos da música Monte Castelo, Legião Urbana)

Escrever e falar sobre amor é o clichê mais clichê do mundo. E mesmo assim continuamos falando dele. Será por falta ou por excesso? Não me atrevo a explicar.

Em meados do século XIII surgiu o Iluminismo, formado basicamente por estudiosos, isto é, pensadores da época (a maioria vinda da elite). Eles acreditavam que, através do exercício racional e “científico”, conseguiríamos atingir um alto grau de progresso social, moral e político. Tinham como maior objetivo reformar a sociedade e o “conhecimento” herdado da dura tradição medieval (Igreja e Estado).

Percorrendo a história, vimos as guerras locais e mundiais, a bomba atômica, os nazistas e Auschwitz nos dando a impressão de que alguma coisa deu errado nesse sonho de progresso. Muitas mentes “inteligentes” usaram sua capacidade intelectual para jogar barranco abaixo nossa querida Terra.

Sei da grande relevância da educação, do ensino e da ciência. São jóias da humanidade. Mas o que está faltando mesmo dentro de nós é o tão aclamado amor.

A música Monte Castelo foi escrita baseada no poema do poeta português Luis de Camões e também no mais famoso texto bíblico do Apóstolo Paulo. O amor que os inspirou foi esse do tipo que se sacrifica pelo outro, que se doa na medida certa, que consegue dar um passo para trás esperando quem não anda tão rápido como ele, esse que enxerga para além dele mesmo. É, como canta Renato Russo, “um estar-se preso por vontade” própria para o bem de quem se ama.

Notamos que temos especialistas de todo o tipo. Os que já sabem como fazer para acabar com a fome, com o desemprego, com a falta de moradia, com as guerras e com o preconceito. O problema não é a informação, a “ignorância” ou o não saber. No fundo sabemos muita coisa! Penso que de nada adianta estarmos cheios de estudo e vazios de amor. Toda mãe e pai minimamente saudáveis, sabem o que é matar um leão por dia por amor ao seu filho. Seja trabalhando, dando afeto, levando-o ao médico ou deixando de comer para eles saciarem a sua fome. Há alguns dias, conversei com uma amiga e ela me contou que, quando seu filho de catorze anos se machucou gravemente, ela conseguiu carregá-lo no percurso de vários metros em seus braços até a maca do hospital. Ele é muito mais alto e mais pesado que ela. A força não veio do desespero, a força veio do seu amor. “É só o amor que conhece o que é verdade”. Alguns diriam que ela não aguentaria carregá-lo, o amor ri dessas impossibilidades.

Sei que muitas vezes erramos e agimos de forma errada pensando em acertar. Mas não é disso que estou falando. Estou falando daquelas coisas que você sabe que poderia ter feito e não fez porque não ama. Daquelas velhas desculpas de horário, de desencontro e de agenda. Quem quer dá um jeito. Então, por favor, pare de arrumar desculpas por algo que, no fundo, não quer fazer e, por esse mesmo motivo, desmarca os compromissos, adia ou inventa mil motivos e histórias diferentes para não comparecer ao local combinado. É você que enche a sua agenda. Talvez você simplesmente não ame. Não conseguimos amar a todo o mundo.

Penso que o mais importante para o apóstolo Paulo, Camões e Renato Russo, não era a ciência, raciocínio lógico ou boas obras que você exerça para com o mundo. Mas, sim, o que você sente quando você faz o que tem que fazer. Ou melhor, você faz por amor? “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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