Lug Costa 18 de outubro de 2021

Era uma vez um menino que foi gerado com muito amor. Sua mãe tudo fazia para que crescesse em sabedoria diante de Deus. Sonhava e ficava horas imaginando como seria o seu filho quando crescesse: será forte? saberá escolher bons colegas para fazer amizade? Será um homem educado, carinhoso com a sua família? Como será meu filho? E sempre terminava seus sonhos pedindo a Deus que livrasse de todo mal.

O menino crescia. Completara já 16 anos. Diante da mãe parecia um anjo: comportado, atencioso. Mas este comportamento era apenas aparência. Longe dos olhos da mãe era uma outra pessoa. Sedento por experiências diferentes daquelas orientações que a mãe lhe dava, um pouco de tudo procurava provar: fumo, más companhias, drogas, álcool, transas, etc. De todas as experiências sempre dizia: “é só para provar! Nada disso vai influenciar na minha vida. Não vou me deixar levar por estas bobagens que mamãe tenta colocar na minha cabeça. Eu tenho mais é que curtir a vida enquanto sou jovem. Eu não estou fazendo nada de mais. Faço o que tudo mundo faz”. E sua consciência estava sempre “repousando em paz”.

Porém um dia foi dormir e teve um sonho um pouco estranho. Sonhara que Nossa Senhora o contemplava e chorava. Acordou meio encabulado com o sonho. E não conseguia compreender porque N. Senhora estava chorando para ele. Ficou se questionando sobre o por quê daquelas lágrimas e não conseguiu achar um motivo que lhe explicasse o sonho. Contou o sonho a algumas pessoas, mas ninguém conseguir lhe dizer exatamente qual o significado do sonho.

Um dia ele ouviu dizer que havia numa cidade próxima da sua um monge que interpretava sonhos estranhos. Ficou curioso em saber qual seria o significado do seu sonho. E ficou pensando: “Será que esse tal de monge será capaz de decifrar este bendito sonho?”. Pedia a sua mãe que o levasse para conhecer o monge, e assim poder finalmente saber qual a interpretação do seu sonho. Devido a sua insistência, a mãe resolveu levá-lo um dia ao tal monge. Depois de 3 horas de viagem, finalmente chegaram ao mosteiro. Encontraram uma casa simples, cheia de jardins, tudo ali falava de silêncio, de paz. A mãe não quis descer do carro. Ele desceu sozinho do carro e bateu na porta e aguardou ansioso que aparecesse o tal famoso monge decifrador de sonhos. Para sua surpresa um velhinho, de rosto sereno e olhar profundo, abre a porta e o convida a entrar. O jovem ansioso para ter o seu sonho decifrado, expõe imediatamente o motivo de sua vinda àquele lugar: “Vou logo direto ao assunto: eu vim aqui somente para revolver um problema”. O monge retrucou: “Você já sabe resolver problemas?”. E ele respondeu: “Claro que sei, eu sou o dono da minha vida; já sou capaz de resolver meus próprios problemas. Não aceito pitaco de ninguém nas coisas que faço! O senhor é o monge que interpreta sonhos?”. O monge não respondeu a sua pergunta: “O que você gostaria de saber?”. O jovem relatou o estranho sonho que havia tido com Nossa Senhora. Quando acabou de recontar o sonho, o monge lhe disse: “A interpretação deste sonho é muito fácil. Preste bem atenção! Uma grande tragédia vai acontecer na sua vida. Deus colocou muitas pessoas para te indicarem o caminho da vida, mas você obstinadamente escolhe sempre o caminho da morte. Muitas pessoas chorarão com a tua tragédia, e nada poderão fazer. A mãe só chora de tristeza com a morte do filho. O teu caminho já foi selado por tuas decisões e auto-suficiência. O que estás buscando encontrarás mais breve que pensas. É um pena vê tua vida desperdiçada em tão pouco tempo. Pensas que és o tal: bonito, vaidoso, cheio de orgulho, cheio de si mesmo. Mas o que acontecerá contigo desfigurará completamente o teu semblante. Quem vai te reconhecer? Nem mesmo tua mãe. Lágrima, muita lágrima será vertida do seu coração.” Assustado com palavras tão duras e claras perguntou ao monge: “O que posso fazer para mudar tudo isso?”. O monge levantou-se do banco de madeira em que estava sentado, e fez sinal para que se dirigisse à porta por onde tinham entrado. E disse-lhe somente uma frase: “O desejo de mudar só existe no coração que descobre a alegria de viver para Deus servindo seus irmãos”. Ao ouvir estas palavras, ele ficou desapontado com a fama de interprete de que gozava o monge. E começou a dizer para si mesmo: “Mudar pra quê? Eu estou muito bem do jeito que estou. O melhor é esquecer essa história de sonho. Afinal de contas um sonho é apenas um sonho!”. Quando o rapaz saiu o monge foi rezar. Na sua oração pediu a Nossa Senhora que intercedesse por aquele jovem dando-lhe um pouco  mais de tempo para que mudasse de vida.

A oração do monge foi ouvida. O tempo foi concedido, e ele não acreditou na interpretação do monge. A tragédia de  fato aconteceu, e muitas pessoas que o conheciam ficaram indignadas e se interrogavam: “Como é que se morre assim tão jovem? Tanta gente mais velha, doente, já no final da vida  e não morre!”. Porém ninguém percebeu que aquele jovem já estava morto por dentro, no seu vazio, na sua indiferença para com as pessoas que o amavam. Por dentro já não havia verdadeira vida: inalava podridão, excremento; por fora, aparentemente a fachada estava em boas condições de preservação. O sonho não era um sonho mas a sua realidade, e o seu modo de vivê-la semeava lágrimas no coração de Deus.

Até quando tantos jovens continuarão a sonhar o mesmo sonho: sonho de morte? Até quando?

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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