Era uma vez um menino que foi gerado com muito amor. Sua mãe tudo fazia para que crescesse em sabedoria diante de Deus. Sonhava e ficava horas imaginando como seria o seu filho quando crescesse: será forte? saberá escolher bons colegas para fazer amizade? Será um homem educado, carinhoso com a sua família? Como será meu filho? E sempre terminava seus sonhos pedindo a Deus que livrasse de todo mal.
O menino crescia. Completara já 16 anos. Diante da mãe parecia um anjo: comportado, atencioso. Mas este comportamento era apenas aparência. Longe dos olhos da mãe era uma outra pessoa. Sedento por experiências diferentes daquelas orientações que a mãe lhe dava, um pouco de tudo procurava provar: fumo, más companhias, drogas, álcool, transas, etc. De todas as experiências sempre dizia: “é só para provar! Nada disso vai influenciar na minha vida. Não vou me deixar levar por estas bobagens que mamãe tenta colocar na minha cabeça. Eu tenho mais é que curtir a vida enquanto sou jovem. Eu não estou fazendo nada de mais. Faço o que tudo mundo faz”. E sua consciência estava sempre “repousando em paz”.
Porém um dia foi dormir e teve um sonho um pouco estranho. Sonhara que Nossa Senhora o contemplava e chorava. Acordou meio encabulado com o sonho. E não conseguia compreender porque N. Senhora estava chorando para ele. Ficou se questionando sobre o por quê daquelas lágrimas e não conseguiu achar um motivo que lhe explicasse o sonho. Contou o sonho a algumas pessoas, mas ninguém conseguir lhe dizer exatamente qual o significado do sonho.
Um dia ele ouviu dizer que havia numa cidade próxima da sua um monge que interpretava sonhos estranhos. Ficou curioso em saber qual seria o significado do seu sonho. E ficou pensando: “Será que esse tal de monge será capaz de decifrar este bendito sonho?”. Pedia a sua mãe que o levasse para conhecer o monge, e assim poder finalmente saber qual a interpretação do seu sonho. Devido a sua insistência, a mãe resolveu levá-lo um dia ao tal monge. Depois de 3 horas de viagem, finalmente chegaram ao mosteiro. Encontraram uma casa simples, cheia de jardins, tudo ali falava de silêncio, de paz. A mãe não quis descer do carro. Ele desceu sozinho do carro e bateu na porta e aguardou ansioso que aparecesse o tal famoso monge decifrador de sonhos. Para sua surpresa um velhinho, de rosto sereno e olhar profundo, abre a porta e o convida a entrar. O jovem ansioso para ter o seu sonho decifrado, expõe imediatamente o motivo de sua vinda àquele lugar: “Vou logo direto ao assunto: eu vim aqui somente para revolver um problema”. O monge retrucou: “Você já sabe resolver problemas?”. E ele respondeu: “Claro que sei, eu sou o dono da minha vida; já sou capaz de resolver meus próprios problemas. Não aceito pitaco de ninguém nas coisas que faço! O senhor é o monge que interpreta sonhos?”. O monge não respondeu a sua pergunta: “O que você gostaria de saber?”. O jovem relatou o estranho sonho que havia tido com Nossa Senhora. Quando acabou de recontar o sonho, o monge lhe disse: “A interpretação deste sonho é muito fácil. Preste bem atenção! Uma grande tragédia vai acontecer na sua vida. Deus colocou muitas pessoas para te indicarem o caminho da vida, mas você obstinadamente escolhe sempre o caminho da morte. Muitas pessoas chorarão com a tua tragédia, e nada poderão fazer. A mãe só chora de tristeza com a morte do filho. O teu caminho já foi selado por tuas decisões e auto-suficiência. O que estás buscando encontrarás mais breve que pensas. É um pena vê tua vida desperdiçada em tão pouco tempo. Pensas que és o tal: bonito, vaidoso, cheio de orgulho, cheio de si mesmo. Mas o que acontecerá contigo desfigurará completamente o teu semblante. Quem vai te reconhecer? Nem mesmo tua mãe. Lágrima, muita lágrima será vertida do seu coração.” Assustado com palavras tão duras e claras perguntou ao monge: “O que posso fazer para mudar tudo isso?”. O monge levantou-se do banco de madeira em que estava sentado, e fez sinal para que se dirigisse à porta por onde tinham entrado. E disse-lhe somente uma frase: “O desejo de mudar só existe no coração que descobre a alegria de viver para Deus servindo seus irmãos”. Ao ouvir estas palavras, ele ficou desapontado com a fama de interprete de que gozava o monge. E começou a dizer para si mesmo: “Mudar pra quê? Eu estou muito bem do jeito que estou. O melhor é esquecer essa história de sonho. Afinal de contas um sonho é apenas um sonho!”. Quando o rapaz saiu o monge foi rezar. Na sua oração pediu a Nossa Senhora que intercedesse por aquele jovem dando-lhe um pouco mais de tempo para que mudasse de vida.
A oração do monge foi ouvida. O tempo foi concedido, e ele não acreditou na interpretação do monge. A tragédia de fato aconteceu, e muitas pessoas que o conheciam ficaram indignadas e se interrogavam: “Como é que se morre assim tão jovem? Tanta gente mais velha, doente, já no final da vida e não morre!”. Porém ninguém percebeu que aquele jovem já estava morto por dentro, no seu vazio, na sua indiferença para com as pessoas que o amavam. Por dentro já não havia verdadeira vida: inalava podridão, excremento; por fora, aparentemente a fachada estava em boas condições de preservação. O sonho não era um sonho mas a sua realidade, e o seu modo de vivê-la semeava lágrimas no coração de Deus.
Até quando tantos jovens continuarão a sonhar o mesmo sonho: sonho de morte? Até quando?