elza fraga 1 de outubro de 2021

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Se um dia a luz voltar
e espantar a escuridão
e a alma tão ferida
recusar nova estação.

Se a paz se renovar
e no mundo renascer
e a alma tão contrita
se recusar a crescer.

E qual criança doída
berrar a pleno pulmão
nunca mais que nessa vida
vou permitir o verão,

numa birra dolorida
da dor da própria razão
continuar a cantiga
insistindo no refrão

“Não vai haver verão,
nunca mais,
não vai haver verão.”

Se o homem em desespero
perder toda a lucidez
e a alma entontecida
aceitar a insensatez.

Se o ódio encolher
e o amor tecer a mão
vestimentas de amparo
de amor e proteção,

e mesmo assim
a alma bendita
renegar a bendição
se trancar no próprio medo

e desinventar a vida
e mudar as estações
e arrancar do seu cenário
a esperança dos verões.

E se o mundo tão ferido
obedecer ao comando
e deixar que a alma siga
as setas do fim de tudo,

até se perder no abismo
do mais profundo oceano
caminhando com seu plano
com seu destino e sua cruz

e soprar de vez a luz…

Restaria o vazio
no meio do temporal
nunca mais nenhuma queixa

que o homem,
esse grande mal,
é que contamina o puro…

Se escutaria então a voz
do Criador universal
rouca, longe, gultural

vinda de muito fundo

deixa que vá em paz
pros quintos
do fim do mundo!

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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