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Se um dia a luz voltar
e espantar a escuridão
e a alma tão ferida
recusar nova estação.
Se a paz se renovar
e no mundo renascer
e a alma tão contrita
se recusar a crescer.
E qual criança doída
berrar a pleno pulmão
nunca mais que nessa vida
vou permitir o verão,
numa birra dolorida
da dor da própria razão
continuar a cantiga
insistindo no refrão
“Não vai haver verão,
nunca mais,
não vai haver verão.”
Se o homem em desespero
perder toda a lucidez
e a alma entontecida
aceitar a insensatez.
Se o ódio encolher
e o amor tecer a mão
vestimentas de amparo
de amor e proteção,
e mesmo assim
a alma bendita
renegar a bendição
se trancar no próprio medo
e desinventar a vida
e mudar as estações
e arrancar do seu cenário
a esperança dos verões.
E se o mundo tão ferido
obedecer ao comando
e deixar que a alma siga
as setas do fim de tudo,
até se perder no abismo
do mais profundo oceano
caminhando com seu plano
com seu destino e sua cruz
e soprar de vez a luz…
Restaria o vazio
no meio do temporal
nunca mais nenhuma queixa
que o homem,
esse grande mal,
é que contamina o puro…
Se escutaria então a voz
do Criador universal
rouca, longe, gultural
vinda de muito fundo
deixa que vá em paz
pros quintos
do fim do mundo!