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Foi amor à primeira vista. Ou melhor, amor no primeiro dia de bloco.
Ela, fobó destemida e traquina, polvilhava a todos. Ele, tímido expectador, acompanhava a passagem do bloco.
Aconteceu que na descida do semáforo o jovem comportado e vestido pra festa foi bombardeado por maisena. Os olhos embaçaram, mas ainda sim puderam ver a estampa da chita. Esbravejando partiu em perseguição ao mascarado que se misturou a multidão de foliões. Na praça, os olhos puseram-se nas cores das estampas fortemente coloridas. Dada a pouca quantidade de pessoas no dia, não tardou muito a encontrar. Sem a máscara de papel fitou seriamente nos olhos. Quis dizer palavras de contestação, de irá, de raiva… mas rendeu-se de tal forma aos olhos daquela linda semideia. E o contrário, se fez recíproco. Logo, estavam entrelaçados na chita polvilhada. Dali vivenciaram um amor eterno enquanto durou.
Os dias de paixão acompanharam a cadência de cada bloco. Pareciam um só perdidos nas qualidades e defeitos de cada um. Agora eram dois mascarados descendo e subindo ladeiras e polvilhando no mesmo compasso. Até brincaram na espuma e banharam-se nas águas de cheiro no domingo. Tudo parecia perfeito. O amor dava sinais de que poderia ultrapassar a quarta feira de cinzas. Mas não mais que de repente…
Foi na segunda de carnaval. Estavam vestidos com a típica indumentária tradicional. Não só eles, mas uma multidão de fobós. Enquanto a música perguntava quem poderia ser o mascarado, mais e mais brincantes se juntavam ao bloco em vestes parecidas. Saíram acompanhando o bloco de mãos dadas. Não muito tardiamente os dedos entrelaçados desfizeram o aperto seguro das mãos. Sentiram-se como se o próprio amor tivesse sido rompido. Separados, perdidos um do outro na multidão, não tiveram o último abraço, o último beijo… Soube ele mais tarde, que ela estava abordo de volta pra casa depois de sete dias longe de casa. 26.02.20
Obs: O autor é poeta e fotógrafo amador. Trabalha na UFOPA / campus de Óbidos.