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Vô, como o senhor me dizia,
Dessa vida que se vive e se passa
Essa mesma,
Não tô entendendo mais nada
Tem juiz e deputado bandido
Julgando ladrão deputado
A justiça brasileira não é cega
Tem um olho no peixe
E o outro no gato, no rato, no pato
O ventilador tupiniquim
Já deu curto, quebrou
De tanta bosta jogada
No seu motor
Vô, tem ateu cansado de brigar com Deus
Tem jovem desinformado
Torcendo para ditadura militar voltar,
Tem intelectual criticando o assistencialismo
Mas não tira a bunda do lugar
Não tô entendendo nada
Tem pai sustentando a família Com sangue e suor
Enquanto o pastor com má fé
Se sustenta do bom e do melhor
É jato, carro importado, fazenda de gado
Pastor televisivo ostentando a riqueza,
Não se lembra da pobreza
Nem da miséria
Do pobre coitado, fiel dizimista
Que segue na fé realista
Tem padre pedófilo Que esconde criança debaixo da batina
Tem freira doente sendo conivente
A Cúria diz não saber de nada
E o que restou?
Crianças desprotegidas
E infinitamente traumatizadas
É filho educando pai
É pai querendo levar a vida do filho
É avó indo pra balada
Dizendo para filha dormir
E não esperá-la acordada.
É neto que não sai pra rua
Fica o dia inteiro deitado,
Jogando videogame,
Ou fazendo palavra cruzada.
Vô, não tô entendendo mais nada
Tem mãe de quatro filhos,
Parcelando cirurgia
Em vinte e quatro vezes
Para voltar a ser virgem
Tem gente de cabelo crespo,
Escondendo sua raiva de negro
É metido a europeu,
E ainda trabalha na Unesco
Tem gente sorrindo pro computador,
E quando fui à casa do indivíduo,
Logo me espantei,
Estava tudo tão triste e sem cor
Tem gente gastando dinheiro à toa
Me convidaram para uma festa
Foi então que descobri,
Que a festa não era para uma pessoa,
A aniversariante, na verdade,
Era uma cachorra
Vô, como o senhor me dizia,
Dessa vida que se vive e se passa
Essa mesma,
Não tô entendendo mais nada
Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.