Garoupa, Cioba, camarão fresquinho!
Diga aí, minha patroa,
vai levar o que hoje?
Era assim, sempre depois da feira,
ir nas barracas do Pina comprar peixe.
Eu gostava, ficava olhando o mar.
Depois, olhos fixos no facão,
tirando fino nos dedos sujos do peixeiro.
Eita corte certeiro!
Nem piscava, tamanha tensão.
Mão na saia de mainha,
vento esvoaçando os cabelos.
Pescadores na praia puxando rede,
meninos buchudos correndo em volta,
gatos embaixo da barraca.
Voltava os olhos para as mãos,
metidas lá dentro, puxando vísceras,
faca raspando as escamas.
Olhava os desenhos aleatórios
que a sujeira de sangue formava
na camisa do homem…nenhum peixe.
Vento trazendo o cheiro pelas ventas,
o lenço voando na cabeça da minha mãe
e a mão puxando quando ameaçava ir no mar.
Peixes embrulhados nos jornais,
sacudidos dentro de um saco,
volta para casa, um olhar pelo vidro traseiro.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
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