O partido do primeiro ministro de Israel, Bejamin Netanyahu, acaba de ganhar as eleições domingo passado, 15 de março. Ao que tudo indica, a interminável guerra entre Israel e Palestina vai continuar. É de se desesperar. A humanidade parece não gostar de encontrar a solução para seus problemas. Como dizia Churchill, sempre escolhe o caminho errado. Será que é inócuo lembrar aqui um princípio básico do movimento de Jesus, formulado por Paulo de Tarso?
Nos anos 50, uns 20 anos depois da morte de Jesus, o apóstolo Paulo escreveu a seguinte frase: ‘Não há judeu nem grego, não há escravo nem homem livre, não há macho nem fêmea, pois vocês todos são um em Jesus Cristo’ (Gl 3, 28). Traduzido: ‘Não há israelense nem palestino’. Pode? Paulo, por favor, me explica: onde está minha identidade? Eu não sou brasileiro, belga, alemão, israelense, palestino? Não levo comigo uma carteira de identidade? Paulo responde: não, você não é antes de tudo brasileiro, etc. Você é gente.
Aqui o problema reside no fato que as pessoas costumam confundir identidade e nacionalidade e esquecem como isso é perigoso. Potencialmente, eu me torno conivente com crimes cometidos por minha nação se não tomar distância diante da ideia de nacionalidade confundida com identidade. Identidade nacional pode ser mortífera. É uma falta de clareza que nos pode atingir a cada momento. No momento em que um israelense se identifica como israelense e não toma distância diante do projeto colonizador de sua nação (colonizar o território de Gaza, construir casas no território da Palestina etc.), ele colabora implicitamente com a morte das vítimas desse projeto nacional. Infelizmente, o eleitor israelense de domingo 15 de março confirma a ideia que é preciso matar, oprimir, etc. para ser ‘israelense’. Assim a ideia nacional (nem falo aqui de ‘nacionalismo’) pode provocar as maiores desastres, como verificamos na última Guerra Mundial. Penso inclusive que um dos pontos mais fracos da atual Organização das Nações Unidas (ONU) consiste exatamente no fato de ser baseada na ideia de nação e não na ideia do universalismo humano, defendida por São Paulo na carta aos Gálatas, que estamos aqui comentando.
Verifico mais uma vez que o cristianismo tem algo a dizer sobre os problemas urgentes que a humanidade enfrenta. Infelizmente, os próprios cristãos nem sempre conhecem nem avaliam o peso atual da frase do apóstolo Paulo:
Não há judeu nem grego,
não há escravo nem homem livre,
não há macho nem fêmea,
vocês todos são um em Jesus Cristo (Gl 3, 28).
Não há israelense nem palestino, há gente. 20/03/2015.
Obs: O autor : “Nasci em Bruges, na Bélgica, no ano de 1930. Estudei línguas clássicas na universidade de Lovaina e teologia em preparação ao sacerdócio católico, entre 1951 e 1955. Em 1958 viajei ao Brasil (João Pessoa). Fui professor catedrático em história da igreja, sucessivamente nos institutos de teologia de João Pessoa (1958-1964), Recife (1964-1982), e Fortaleza (1982- 1991). Sou membro fundador da Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina (CEHILA), fui coordenador para o Brasil entre 1973 e 1978, responsável pelo projeto de edições populares entre 1978 e 1992, e entre 1993 e 2002 responsável pelo projeto “História do Cristianismo”. Entre 1994 e 1997 fui pesquisador visitante no mestrado de história da universidade federal da Bahia. Durante esses anos todos administrei cursos e proferi conferências em torno de temas como: história do cristianismo; história da igreja na América Latina e no Brasil; religião do povo. Atualmente estou estudando a formação do cristianismo nas suas origens, especificamente os dois primeiros séculos.”
Explicação do painel(foto)
O autor é o primeiro à direita.
“O painel do fundo, é um quadro desenhado pela Irmã Adélia Carvalho, salesiana (Filha de Maria Auxiliadora) de Recife e ‘artista da caminhada’, que tem muitos trabalhos na linha de uma Igreja libertadora e colabora em diversos programas de conscientização pela arte.
O tema do quadro pode ser descrito assim: ‘a proposta cristã na confusão do mundo em que vivemos’.