Mais uma vez, as “festas juninas” ficam prejudicadas pela persistência da pandemia, que continua causando milhares de mortes em todos os países. Contra as esperanças de um rápido declínio da propagação do vírus, nos confrontamos com novos surtos de contágios, que nos deixam perplexos, e voltam a nos preocupar com a real dimensão desta pandemia.
Ainda não dá para medir, adequadamente, o tamanho da desgraça que se abateu sobre a humanidade. Diante disto, permanece válida a estratégia de lançar mão de todos os expedientes de prevenção contra possíveis contágios que facilitem a instalação do vírus.
Esta pandemia não se limita a um episódio esporádico, sem consistência e sem consequências. Mesmo com o cuidado de não precipitar deduções apressadas, é evidente o apelo para desde já identificar interpelações pertinentes que explicitem valores e contra valores do estágio em que encontra hoje a civilização humana.
Como o vírus não tem pressa de causar estragos, não vamos precipitar conclusões. Mas também não sejamos superficiais, achando que algum remédio servirá de panacéia contra todas as desgraças desta pandemia.
Tomando como ponto de partida a vida humana, que é a grande riqueza que o nosso planeta terra ostenta, quantas interrogações poderiam ser evidenciadas, para identificar critérios orientadores de nossa ação, nas diversas dimensões da sociedade.
Tomemos como exemplo a situação vivida neste mês de junho. Ele é marcado por festas populares tradicionais, em todas as regiões do País, mas, sobretudo no Nordeste. Ao redor do mês de junho se verifica uma convergência de datas assinaladas pelo calendário romano, e outras datas determinadas pelo calendário litúrgico.
Concretamente, o calendário romano estabelece a festa de três santos, que caíram na simpatia do povo: Santo Antonio no dia 13, São João no dia 24, e São Pedro no dia 29. As figuras desses três santos são colocadas no mastro, que é erguido nas proximidades da “Igreja Matriz”, para permanecer o mês inteiro, como ponto de referência dos festejos.
São festas organizadas pelo próprio povo, através das quais manifesta sua alegria de viver, e de conviver com as pessoas, que se sentem convidadas a entrar na dança, que contagia e envolve.
Em sua simplicidade, as festas juninas acabam expressando uma verdade muito importante, que precisa ser concretizada: a vida precisa ser celebrada, com gratidão e alegria. A dimensão celebrativa da vida é imprescindível.
É comovente ver os pobres partilhando os poucos bens que possuem. Na mesa do pobre sempre há lugar para mais um. Mas, para que isto aconteça, e necessário que o pobre disponha de um mínimo indispensável para a sua sobrevivência.
Passada esta pandemia, haverá condições de celebrar a vida? Os 14 milhões de desempregados, terão motivo para dançar? Depois da pandemia, haverá ainda “festas juninas”?
Esperamos que sim. Mas elas só serão viáveis com o compromisso solidário de todos, na busca do bem comum e da solidariedade. 10.06.2021
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.