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Uma bandeira é um capital representativo. Ela carrega um poder simbólico, como diria o sociólogo francês Pierre Bourdieu. Qualquer que seja, a bandeira significa aquilo que ela representa. Mas, o que ela exprime pode estar muito além do sentido objetivo que lhe é atribuído. Os simbolismos e representações estão permeados de conotações subjetivas. Isso vale para as bandeiras nacionais, estaduais, municipais, de movimentos sociais, de partidos políticos, de grupos, organizações, agremiações, de igrejas, pastorais, etc. Há bandeiras que são coletivas e outras que podem ser pessoais. A propósito, vale indagar: Qual sua principal bandeira?

Estamos na Semana da Pátria, período em que a bandeira do Brasil está mais exposta por todos os cantos e recantos, indicando diversos encantos e também muitos desencantos. Na fâmula há um slogan herdado do positivismo, sintetizado nas palavras “ordem e progresso”. Diferentes e divergentes compreensões se constroem e se propagam acerca do que deveria significar, na prática, esse binômio. Entre elas, está uma bela canção de Zé Pinto, apontando para os princípios da ordem e do progresso, não visto como simples crescimento econômico, mas como desenvolvimento humano e social integral e integrado. A propósito, afirma que “a ordem é ninguém passar fome, progresso é o povo feliz”.

A Pátria anda com pouca paz, em pé de guerra, com muitas armas, muito doente, com muito desemprego, muita fome e pouco feliz. Junto com a pandemia do coronavíus, que se abateu sobre a humanidade há quase dois anos, foi insuflado cotidianamente muito ódio. E nossa Pátria foi e está sendo amplamente acometida por este vírus social generalizado, elevando a níveis absurdos a intolerância e a estupidez humana. O que fazer com essa força bruta que emerge de dentro dos corações e das mentes? Este é o grande nó górdio que nos atemoriza e inquieta.

O Hino Nacional Brasileiro, composto por Joaquim Osório Duque Estrada, ressalta que “o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da pátria”. Também enfatiza que há “um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança”. Mais adiante convoca o Brasil a ser “símbolo de amor eterno” e não de ódio permanente. Clama para que haja “paz no futuro”, mas se esquece de assinalar que só haverá paz no futuro se ela for construída no presente. E, embora o hino não deixe bem claro, sabemos que a paz verdadeira só advém da justiça social praticada como um projeto nacional. Ainda afirma que “um filho teu não foge à luta”. Mas, quem são os filhos que não fogem à luta? De que luta não se deve fugir e quais lutas deve-se evitar?

O mesmo hino repete seis (6) vezes que a Pátria é amada ou deveria ser amada por todos os seus filhos e filhas e mais aqueles que resolveram adotá-la como mãe. Não há nenhuma ocorrência no Hino Nacional de que a Pátria deve estar armada com armas para matar os próprios irmãos. Acresce dizer (embora pareça redundância) que a Pátria é (deveria ser) de todos. Não obstante, há uma multidão de excluídos, desterrados e oprimidos em sua própria Pátria. Nesse contexto, é altamente oportuno afirmar que os/as verdadeiros/as patriotas são os que cuidam da mãe natureza (multicores) e do território com uma riqueza incomensurável, por sinal muito mal repartida entre os filhos seus.

É preciso, sim, hastear e manter hasteadas várias importantes bandeiras. Não com mero espírito ufanista, nacionalista, triunfalista, exclusivista, etc. Excede e já vai tarde a necessidade que temos de manter bem erguidas as bandeiras da paz, da justiça social, da equidade, do cuidado com a natureza, do respeito ao diferente, do diálogo, da saúde para todos e todas, da democracia, da educação humanizadora, da espiritualidade libertadora, da solidariedade. Ao invés de patriotas arrogantes e intolerantes, precisamos ser irmãos e irmãs que promovem e lutam pela a vida diga acima de tudo e para todos!

Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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