elza fraga 1 de agosto de 2021

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Sei quanto é difícil estar aqui, encarnada, sem lembranças do outro lado.
Sei que o passado ficou no passado, e o futuro pode ser mudado dependendo das minhas ações. O meu ato de hoje criando a realidade do amanhã.

Sei que palavras são inúteis, e muitas vezes vazias de conteúdo, mas sei também que, apesar de constranger e machucar, as vezes se faz necessário um sonoro não, no lugar do sim inconvicto tantas vezes dito.
Sei que cada pedacinho dói com os espinhos plantados pelas minhas próprias atitudes, e que só eu posso fazer parar de doer.

Sei o quanto arde as noites insones, e que a vigília dos dias cobra por todas as madrugadas em alerta, fitando o teto e tentando não pensar.
Sei que o silêncio da mente pode trazer respostas as perguntas difíceis da vida, mas sei que calar o tumulto interno é questão de exercício e zelo, requer tempo e muita paciência.

Sei que caí aqui sem mapa, bula, manual de instrução, varinha mágica ou bola de cristal, e por isso tenho que me virar do meu jeito, com as poucas informações e a falta de sinalização da estrada que percorro.

Sei que corro riscos desnecessários quando ouso ser feliz apesar de tudo o que vejo, sinto, experimento e tento.
Sei que já aprendi que o medo é peso desnecessário, e o larguei sem dó na beira do caminho.

Sei que os meus passos podem me levar tanto ao topo da montanha quanto ao fundo do abismo, e por isso tenho que usar a cautela como bússola, e deixar que os instintos me avisem em que viela escura estão as armadilhas.

Sei que cada lição aprendida e acertada é anotada em registros e aplaudida, e cada uma das que fiz errada vai me obrigar a repetí-la.
Sei que por mais que me cause estranheza esse corpo/armadura emprestado pra empreitada na Terra, ele é só meu, e de minha inteira responsabilidade, e devo devolvê-lo ao pó, no final da linha, com o mínimo de danos.

Sei que além daqui existe regulamento, ordem, lei Divina, e muitos invisíveis aos meus olhos torcendo para que, dessa vez, eu faça o correto, e me gradue com nota que preste.
E sei que apesar das sombras jogarem iscas, maldades, e cacos que machucam os meus pés, por toda a trilha, tenho que atravessar sem titubear ou me perder em julgamentos e lamentações;
porque aprendi que não devo julgar companheiros de jornada que se deixaram enredar pelo escuro, pelo medo, e obedecem cegamente aos que lhes puxam os cordões.
Sei que já estive lá, em pior situação que esses que me atrasam os passos.

E agora que vejo caminho firme, não mais o labirinto, que consigo não me perder tanto andando em círculos, que arrisco até dizer que já existe uma tênue luz a iluminar os túneis a atravessar;
sinto uma imensa vontade de voar além dos montes e dos rios, onde sei que é o meu lugar, e pousar enfim na relva fresca coberta pelo canto dos amigos passarinhos .

Sei que falta pouco pra voltar, aprendi a geografia das vindas e das idas, agora só me faltam as asas.

elza fraga

Sabendo que é hora de desapegar das malas, largar as tralhas na estrada, correr mais rápido com o vento a favor, até conseguir a exata vibração do voo,
e alçar os céus, e voltar pra casa.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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