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No dia 15 de agosto de 1931, aos 22 anos e seis meses, Helder Pessoa Camara era ordenado padre. Por ter menos de 24 anos, a idade mínima para ordenação, obteve uma licença especial do Papa Pio XI que, contribuiu para que, há 90 anos, nascesse não apenas um pastor, mas um profeta.

Colocamos abaixo a transcrição do diálogo que o menino Helder Camara teve com seu pai e que contou em seus escritos, anos depois.

SER PADRE

POR DOM HELDER CAMARA

Desde quantos anos? Quatro três eu digo que queria ser padre. Quado atingi os nove ou dez anos, meu pai me chamou e me disse, meu filho, você, desde que eu me lembro, diz que quer ser padre.  Está crescendo e continua a dizer que quer ser padre. Você sabe o que significa ser padre meu filho?

E aquele homem, que embora fosse um homem de bem, não era um praticante, me apresentou um retrato de padre, uma figura de padre, que achei maravilhosa. Ele disse: “olhe meu filho, guarde para toda a sua vida: padre não tem direito de ser egoísta. É uma aberração padre egoísta.

Não pode pensar só em si, tem de viver para os outros. Porque o padre não existe no vácuo. Só existe padre para a glória de Deus, servindo aos homens”.

E ele continuou por aí afora. Quando ele acaba a descrição eu lhe digo: é esse padre assim que eu desejo ser.  Dali por diante foi o primeiro a me ajudar na minha vocação.

O pai do menino Helder não podia ter melhor conselho. Por certo tanto o pai de Dom Helder, quanto o Papa Pio XI, tiveram orgulho do padre em que o menino Helder se tornou.

Mais tarde, em 19 de maio de 1976, Dom Helder escrevia em sua crônica Doce Magia, lida em seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDAE e da qual destacamos, abaixo, um trecho onde ele se revela em sua fé e generosidade:

Meus queridos amigos

Muitos de nossos desejos ficam só para Deus. Por vezes até revelar o que nos passa pela cabeça seria capaz de chocar, de escandalizar.

Quando estou em lojas de brinquedos e vejo crianças loucas de alegria, de desejo e de inveja diante de brinquedos tentadores até para gente grande, tenho ímpeto de comprar a loja toda e alegrar a criançada tão querida pelo Mestre.

Quando estou em hospitais e vejo tantos enfermos, sobretudo quando me defronto com sofrimentos mais dolorosos ou com crianças sofrendo, ou pais e mães de família se acabando quando teriam uma ninhada e filhos para criar, sinto como somos covardes ou como é frágil a nossa fé. Não bastaria uma grande fé para mandar que um monte se atirasse n’água? Que tentação de mandar as favas a prudência, de perder o medo do risco e de ordenar, em nome do Cristo, que os enfermos regressassem para casa, curados!

(…) Até agora só citei desejinhos simples, fáceis de entender e de aceitar. Vou arriscar um mais difícil de ser entendido, mais louco da loucura de Deus!

Todo dia, quando celebro a missa e, pela força do Espírito Santo, em lugar de pão e vinho, tenho o corpo e o sangue de Cristo em minhas mãos, tenho vontade de sair dançando com a hóstia e o cálice na mão… Sair dançando! Quem quiser me achar louco que ache.

Louco da loucura divina. É o Filho que se faz Homem e na Eucaristia toma o lugar do vinho e do pão!

Como sei que uma gota de sangue divino tem virtudes e poder para lavar todos os crimes da Terra e salvar todas as criaturas, tenho ímpetos de sair dançando e espargindo, por toda parte, o Sangue Salvador… Criaturas espantadas, irmãos a quem tenha — quem sabe? — escandalizado, tranquilizem-se: minhas loucuras mansas ficam só no desejo… Continuarei prudente, comedido, bem comportado…

Loucura, só por dentro e só com Deus!

Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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