Quero refletir com vocês o evangelho de hoje, porque eu penso que tem muito a ver com a nossa vida e a vida religiosa. Nesta semana estamos refletindo os textos bíblicos onde a figura central é Maria, a serva do Senhor, aquela que se fez obediente, que soube acolher a vontade de Deus em sua vida. E esse texto de hoje nos apresenta aquilo que é a missão de Maria, mas a missão nossa e penso que, em particular, a missão dos consagrados e consagradas, e refletir este texto, neste tempo de espera, uma espera não passiva, mas uma espera ativa é dá certeza a nossa fé. Refletir este texto as vésperas deste acontecimento, que marca a vida nossa e de toda a humanidade, deve reforçar a nossa fé e também a nossa missão.

O texto diz que Maria partiu e partiu apressadamente, ela não partiu sozinha, ela partiu com o Senhor. Ela já levava consigo o Senhor, ela já é serva do Senhor, ela já se consagrou a missão que o Senhor lhe confiara e partir é uma dimensão fundante na vida dos seguidores do Senhor. O Papa Francisco tem insistido muito nessa ‘Igreja em Saída’, nessa Igreja que vai ao encontro das realidades, não a Igreja que espera, mas uma Igreja que parte, que sai, e Maria partiu. Partiu inicialmente para uma cidade. As nossas vidas dependem da globalidade da cidade, da análise que a gente chama de conjuntural das cidades. Izabel mora em uma cidade e Maria partiu para esta cidade, com todas as problemáticas da cidade, com todas as situações da vida urbana. Ela parte para mergulhar em uma realidade que nem sempre é aquela querida pelo Senhor. Nós não podemos partir ingenuamente. Partir impulsionados pelo Espírito do Senhor é partir tendo essa consciência, ainda que limitada, daquilo que nós iremos enfrentar, do que vamos encontrar.

A cidade influencia em nossa vida, e eu quis partir desta reflexão com vocês, porque também a palavra de Deus deve influenciar em nossa vida e na sociedade, na cidade, no mundo, nós não podemos desligar a nossa vida do contexto que nós vivemos. Infelizmente a cidade é marcada por sinais de morte, sinais de violência que as vezes tira a vida. Neste final de semana nestas três cidades Crato, Barbalha e Juazeiro, foram mortas 22 pessoas. A realidade da cidade é uma realidade que grita pela paz. Como pregar o amor nestas cidades? Vocês acabam de me acolher reafirmando ser Deus o amor e, o amor de Deus tem que chegar a vida das pessoas pelo nosso testemunho. Vou pregar o evangelho, e se for preciso usar as palavras. Se for preciso, mas pregar em primeiro lugar pelo testemunho e pela vida. O testemunho e a vida antecedem a palavra. Partir é sair, sair para encontrar, para ir ao encontro e mostrar alternativas, mostrar saídas.

O Papa tem insistido muito na conversão da vida paroquial e para que as paróquias sejam missionárias, comunidade de comunidades. Como a maioria de vocês trabalham em paróquias, certamente vocês também serão braços fortes na concretização, não no desejo do Papa, mas no desejo de Deus revelado por ele.

Que esse tempo natalino, essa atitude de Nossa Senhora, também nos une a partir, a sair de uma certa conformidade ou de um certo conforto e ir ao encontro dessas realidades que mostram os sinais de Deus em nossa vida.

A cidade da Judeia é hoje a nossa diocese: 32 municípios, 1.015.082 de pessoas, organizadas em 56 paróquias e duas áreas pastorais. É aqui que nós somos convidados a ir ao encontro, a estar presente, a ser presença, não uma presença qualquer, mas a presença do Senhor. Somos portadores da luz, não a nossa luz, nem a luz da nossa congregação, mas a luz de Cristo, em primeiro lugar a luz de Cristo. Enviados para sermos esta luz do Senhor, que não vejam a nós, nem a nossa congregação, mas a Cristo, que se convertam a Cristo, passando evidentemente pela espiritualidade especifica de cada carisma, de cada congregação, mas a espiritualidade cristã, a espiritualidade do seguimento de Cristo é bem maior do que a nossa espiritualidade especifica. Nossa espiritualidade especifica é uma forma de viver o seguimento de Cristo, mas esse seguimento é maior, bem mais amplo do que a nossa espiritualidade.

Partir. Partir para que? A leitura diz que Maria entrou na casa Zacarias. Não é fácil, na cultura individualista, consumista e relativista que nós estamos vivendo, penetrar, entrar na vida das pessoas, porque entrar nos compromete e as vezes é mais fácil a gente ficar na periferia, no encontro do ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e pronto. O ‘Pequeno Príncipe’ diz que: ‘Se tu me cativas, tu se responsável por mim’. Entrar é bater à porta, é um processo que não é cronológico, que não é questão de dois meses, três meses, quatro meses. É um processo vivencial, experimental, processo que nos salva e salva a quem nós encontramos. O resultado é esse encontro de Maria com Izabel: entrou na casa, entrou na vida.

Antigamente, pelo menos minha cultura era um pouco essa, a gente quando visitava as pessoas, ficava na sala e da sala não passava. A terceira ou quarta visita, é que a gente entrava no segundo compartimento da casa. Quando a gente chegava a cozinha e quando a gente era capaz de abrir a tampa da panela ou a geladeira ai a gente já era de casa, já fazia parte da casa. Maria entrou na casa de Izabel. Nós não devemos ter medo de abrir a porta e entrar, e penetrar. Nós não podemos é forçar, violentar, arrombar porque ai nós seriamos ladrões e assaltantes. Nós não devemos ter medo no relacionamento, no acompanhamento, na presença de entrar na vida, sobretudo na vida missionária, sobretudo na razão de ser da nossa consagração, da nossa missão que aqui se trata de ação, de testemunho e é isso que nos enriquece como servidores do Senhor, é a ação que nós praticamos. Nós confirmamos a nossa fé, pela ação que nós realizamos. Então não devemos ter medo de partilhar, de nos enriquecer e também de divulgar aquilo que nós fazemos, e divulgar com alegria, que é a primeira característica do cristão. O papa, na Evangelii Gaudium, começa dizendo que a primeira característica do cristão é a alegria, a cruz é a segunda. Manifestar a alegria nesse mundo.

Como é bom nos encontrarmos, como é bom construirmos tendas, tenda não é morada fixa, tenda a gente desarma e arma de novo. Como é bom nos encontrarmos, então vamos tentar fazer este encontro com todas as forças que estão presente aqui na diocese de Crato. Vamos tentar nos encontrar aqui na diocese de Crato, todas as forças evangelizadoras: bispos, padres, religiosos, leigos, coordenações, movimentos, pastorais, equipes de serviço, todos são convidados a entrar.

Maria entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Izabel. A consequência dessa entrada é portanto a alegria, alegria de revelar aquilo que nós levamos conosco. Nós não levamos um projeto que é nosso. Nós não levamos as nossas ideias, nós levamos essa criança, nós levamos o Senhor. O que nós carregamos conosco não é nosso, não é propriedade nossa, é d’Ele e é Ele que nós devemos oferecer, doar e quando nós não estivermos fazendo isso sejamos muito irmãos, francos, e em um encontro orante nos corrigirmos, com caridade nos corrigirmos, nos ajudarmos, porque todos nós, neste escola, somos aprendizes, todos. Na escola do Mestre, só Ele é o Mestre, nós somos aprendizes. Quem quiser ser o maior seja o servo, seja o menor, sirva a todos.

É muito importante estes dois verbos: partir e entrar. Entrar na vida, no acontecimento, na história. Nós não podemos ser pessimista e nem podemos ficar na linha defensiva. ‘Ah, mais ninguém me convidou. Ah, mas eu não fui convidado’. Partir para buscar, para me interessar. Todos os nossos encontros, aproveitemos para comunicar, para anunciar a alegria do encontro.

Estava imaginando agora como os irmãos e irmãs que não estão presentes aqui poderão saber o que nós vivemos neste dia. Se nós os informarmos eles poderão saber. E olha que hoje nós temos vários meios tecnológicos, não só o telefone, mas agora o WhatsApp, então devemos usar estes meios para entrar no coração e na vida das pessoas. Entrar nesse meio para comunicar o que nós estamos fazendo e como nós estamos vivendo a nossa fé.

Nesse entrar, viver o encontro que causa uma alegria não superficial e externa. Lucas revela que esta alegria vem de dentro, até as crianças pularam de alegria, até João e Jesus celebraram o encontro destas duas mães.

No primeiro século a vida dos cristãos era tão fraterna e solidária, que diante de um mundo tão oposto aquilo que Jesus propunha, eles eram capazes de dizer: ‘vejam como eles se amam’. Talvez aqui esteja também um grande desafio nosso, não para mostrar para o mundo, mas sobretudo para que o mundo se converta e creia que nós experimentamos e vivemos.

Então, neste sentido, eu aproveito também para desejar a todos e todas um natal onde renasça as esperanças, onde o Senhor também entre em nossa vida pessoal e comunitária, onde a gente possa dar passos qualitativos no que se refere ao testemunho do Senhor e que este natal nos traga muita esperança de comprometimento no seguimento da vida e da mensagem de Jesus, e no comprometimento entre nós como irmãos e irmãs. É o que desejo a todos.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”

Dom Gilberto Pastana aos religiosos e religiosas da diocese de Crato, no dia 21 de dezembro de 2016.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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