Paulo Cesar Paschoalini 1 de agosto de 2021

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Quem de nós não se lembra do tempo em que éramos criança? Das inocentes brincadeiras nas calçadas, do pular de cordas das meninas, do bate-bola dos meninos e do esconde-esconde que unia ambos os gêneros.

Para os meninos, havia ainda a fantasia de imaginar-se sendo super-heróis, utilizando máscaras de mais variados tamanhos, modelos e personagens a escolha. A maioria desses adereços faciais, quase sempre sobre os olhos, fazia com que sentissem com poderes suficientes para alçar voo às suas ilusões.

No caso das meninas isso era menos comum, muito embora recorressem a outros expedientes, com a chegada da adolescência. A força que propunham continha mais sutileza, vinda através da maquiagem. Assim, ao invés de ocultarem a “identidade secreta”, como os garotos, elas realçavam traços sobre o rosto a fim de corrigir eventuais imperfeições.

Dessa maneira, todos nós crescemos fazendo do rosto o nosso “cartão de visitas”, além de ensaiar expressões, esconder sentimentos e dissimular intenções, sustentando metafóricos disfarces como estratégias para finalidades bem definidas. Palavras cuidadosamente pensadas, sorrisos ensaiados e gestos aceitos como adequados sempre se encarregaram de mascarar a nossa personalidade. Foram úteis e ainda nos servem como persona no teatro da vida.

Se nossa fisionomia sempre foi uma grande ferramenta e aliada dos interesses do corpo, o mesmo não pode dizer dos olhos, também conhecidos como “janelas da alma”. Vez por outra os olhares costumam contradizer os lábios, podendo até mesmo um beijo ser elemento crucial para se caracterizar, inclusive, uma traição.

Numa época de tanta superficialidade pessoal e de flagrantes interesses comerciais, justamente quando o nosso exterior mais se submete às imposições visuais, subjugando-nos às ditaduras da contemporaneidade, eis que um inimigo invisível surge para desestabilizar o nosso interior.

Com a decretação da quarentena, abraços e beijos, tão comuns no mundo atual e vistos como ingredientes do jogo da sedução, podendo culminar na concepção de um novo ser, passaram a ser consideradas atitudes de ameaça à vida humana. Esses gestos de carinho, tão banais até pouco tempo, hoje tornaram-se “proibidos”. Em alguns casos, até mesmo respirar passou a inspirar certos cuidados.

Num momento de explosão de percepções visuais, um simples vírus, algo invisível e tão imperceptível, tratou de ditar novas normas de comportamento, condenando o ser humano, até então chamado “ser social”, a viver em isolamento, distanciando-se do “outro”, espelho de suas ações e, ao mesmo tempo, um concorrente da vida moderna.

Máscaras deixaram de ser figuras de linguagem para tornarem-se itens obrigatórios e imprescindíveis. As bocas, agora silenciadas pelo afastamento imposto, estão cobertas pela dúvida, e as feições reduziram-se a olhares reticentes e enigmáticos, com nuances de inquietação e beirando o desespero.

Numa sociedade em que as pessoas sempre usaram e abusaram de subterfúgios como camuflagem da realidade, tirando proveito daquilo que não se revela, todos desejam avidamente a chegada do dia em que as máscaras caiam, de uma vez por todas!

Crônica publicada no blog da “Revista Vicejar” em 16.07.2021:

LINK: https://revistavicejar.blogspot.com/2021/07/mascaras.html

 OBSERVAÇÃO: O texto recebeu a 3ª Menção Honrosa no “XLIII Concurso Literário Felippe D’Oliveira – Edição 2020”, categoria “Crônica”, da cidade de Santa Maria-RS, e foi escrito em coautoria com Márcia Luciana Marques Paschoalini (esposa), nome em que foi feita a candidatura, por tratar-se de inscrição individual.

Paulo Cesar Paschoalini nasceu em 20 de março de 1960 em Piracicaba-SP. É graduado  em  Licenciatura  em  Filosofia,  escritor  de  poesias  e  contos,  com  premiações em Concursos nacionais e internacionais, tendo, inclusive, textos  de ambos os  gêneros  publicados  no  exterior. No ano de 2003 publicou o  livro “Arcos e Frestas”, “3º Concurso Blocos de Poesias”. Também já foi  premiado  na  categoria  crônicas, sendo  que algumas  delas  foram  publicadas  no  Jornal  de  Piracicaba  em  2001, 2002  e  2005. É compositor (letrista) de vinte músicas de diversos estilos. É Acadêmico da “CLIP – Confraria da Liberdade e Independência Poética”, onde ocupa a cadeira nº 32, tendo como patrono o poeta Mário Quintana. Escreveu os originais de “Mar adentro, mundo afora” (poesias) e “Paredes e tons” (contos), aguardando patrocínio para lançamento.

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IMAGEM SUGERIDA: enviada pelo autor

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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