Ana Eliza Machado 15 de agosto de 2021

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Em primeira pessoa mesmo vou escrevendo, narrando, pensando, refletindo, montando e desmontando, argumentando essa nossa realidade que tá difícil de engolir. Chico que me perdoe o intertexto, mas pra qual amigo escreveria, se todos vivemos nessa mesma porquidão?

Ora, por quê?

Pois por aqui as crianças nascem cinzas, crescem cinzas. Por aqui elas não brincam, não sonham: só engolem coca-cola e apostilas enlatadas. Prestam vestibulares de corrupções, faculdades e desafios diversos. Por aqui matamos todos. Os sonhos de um, preconceitos de outro, e o neto daquele ali. Por aqui matamos e desmatamos, por prazer e por gula, intoxicamos rios e fígados e pulmões. Inalamos dessa fumaça de tabaco, preconceito e hipocrisias. E arrotamos discursos políticos e promessas infundadas.

Por aqui assistimos novelas e enredos mil, filmes, guerras e explosões. Operários uivam para a lua e trabalhadores transpiram propina e reforma agrária. Derretemos celulares em frigideiras, bebemos de licores amanteigados- ensanguentados- enquanto atendemos embriaguezes dolosas.

Por aqui abatemos porcos, aves e professores. Jogamos futebol, tênis e esperanças fora. Votamos em república, democraticamente, e enterramos filósofos e mensalões. Declaramos guerra à expressão, religião, aos maus cuidados, à arte e à ideologia. E nos vendemos por paz, egoísmo, música e sustentabilidade.

Conquanto, por aqui ainda se sonha, ainda se luta. Por aqui ainda sorrimos, ainda cantamos, ainda dançamos.

Por aqui ainda há tempo, ainda é tempo, aqui já é  tempo de amar e mudar.
22.10.12

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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