Eu já conhecia o professor de Latim. Com ele fizera um pequeno curso preparatório para o exame de admissão ao ginásio. Contudo, na primeira aula, no ginásio, fiquei chocado com o carão dado em uma aluna, que sentava na última carteira, do lado direito, pelo fato desta estar a folhear o caderno enquanto ele fazia a chamada. Não me agradou. Vislumbrei problemas futuros. Para alívio de todos, o Latim foi excluído do curso ginasial. Dele, do mestre, poderíamos dizer: Louvado seja o legislador.
O curso ginasial estava apenas começando. Cada professor era um mundo bem diferente. Os atenciosos, a exibir simpatia; outros, de cara amarrada, sem interagir com a turma, e, por aí se ia. No ano seguinte, o pior de todos, que retornava ao ginásio, ensinando francês. Entre ele e a estudantada se erguia um muro, alunos lá embaixo, e, ele, no alto, sem ninguém ter a mínina coragem de lhe dirigir a palavra, o receio da reação de quem nunca riu na vida.
Uma vez, na segunda série, fui argüido. Ao abrir a caderneta, bem no meio, eu, o último aluno, o escolhido para o sacrifício. O suplício levou a aula inteira. Nota cinco, no final. Para meu azar, a caderneta foi extraviada na secretaria. Nova caderneta no dia seguinte, a mesma escolha, eu criei coragem para esclarecer que já tinha sido argüido na aula anterior. Não surtiu efeito. Tudo se repetiu, as respostas tímidas, a voz autoritária, o medo e, inclusive, a nota.
Na terceira serie A – eu era da B -, no primeiro semestre, um fato inusitado. No intervalo das aulas, colocaram um sapo na carteira de um aluno, que se sentava a frente do professor. A aula era com o aludido. A chamada sendo feita, o aluno foi pegar o caderno e o livro respectivos. Enfiou a mão na carteira. Aí o desagradável susto de arrastar o sapo, aliás, enorme. Gritou. E grito sempre assusta. Muitos se levantaram. Alvoroço geral. A aula não foi a frente. O professor exigia a confissão do culpado. Ninguém se habilitou. Então, retirou-se da sala, agastado.
Nas férias do meio do ano, a notícia de sua mudança para Aracaju. Ufa! Dele, estávamos livres. O sapo, por seu turno, não retornou a sala de aula. Talvez, o grito do aluno lhe tenha causado profundo trauma. Sala de aula não é lugar para sapo. Deve ter pensado, com absoluta razão – Diário de Pernambuco, 14 e 15 de novembro de 2020.
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras