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O grande lance da vida é a surpresa. Você pode não concordar comigo, mas se tirarmos ela de nossas existências o que vai sobrar de interessante? É claro que estou referindo-me à surpresa boa, aquela que, através da descoberta provoca o encantamento. Da má, não vamos tratar aqui. Pelo menos por enquanto.

É só a gente lembrar da primeira vez em que pegamos na mão daquela pessoa que gostávamos tanto na adolescência, ou ainda do primeiro beijo. Ou daquele presente tão desejado – também na adolescência – e que acreditávamos ser o passaporte para a auto-afirmação. Ou do primeiro emprego. E por aí vai…

Todos esses desafios estavam incontidos de expectativas pelo que iria acontecer; de descoberta por, enfim, desvendar-nos o novo; e de encantamento, pelo êxtase que nos invadia e colocava-nos numa outra dimensão, quando, enfim, tornavam-se acontecimentos que sobravam em beleza e deslumbramento.

E por falar em sobras, o que parece estar sobrando mesmo são botões. É o botão do controle remoto da TV, que nos torna um tolo senhor do mundo; o do forno de microondas, que nos ilude dando a impressão de que sabemos cozinhar; o do condicionador de ar, que não nos deixa transpirar, fazendo com que a nossa saúde – já debilitada pela correria desses tempos – vá para o brejo de vez; o das chaves do carro; os muitos do computador e do celular; o da porta do banco e os do caixa eletrônico. São tantos que acho não ser necessário listá-los aqui.

O certo é que estou por aqui de tantos botões. É claro que eles facilitaram – e facilitam – em muito as nossas vidas. Mas, com tanto apertar de botões, descobrir tornou-se um verbo jurássico e a surpresa, um conto da Carochinha.

Por outro lado, se continuarmos assim, daqui a pouco ninguém vai saber fazer alguma coisa, qualquer que seja, se não for através deles, de tão alienado quanto ao funcionamento dos objetos e equipamentos. Quer um exemplo: ao utilizarmos um carro com vidros elétricos por algum tempo, quando pegamos um que tenha a velha e prática manivela, olha lá nós perdidos e atônitos por alguns segundos tentando encontrá-la. E se for à noite, então, o caos é total.

Feitos para nos dar a sensação de poder, ironicamente passamos a ser dominados por eles. Acaso você nunca passou por uma situação na qual apertou um e ele não funcionou? Mas, o momento da pane dos botões nos lembra que a onipotência não é mesmo para nós, humanos. Ou, quem sabe, talvez seja porque apesar de dois milênios e de tanta tecnologia, o botão do autocontrole ainda não foi inventado.

Obs:  RONALDO TEIXEIRA @espantalholirico cearense de Iguatu, radicado no Tocantins há 50 anos, reside em Palmas. Foi coordenador de Arte e Cultura da Secretaria de Cultura de Gurupi por 8 anos. Atua no meio jornalístico há cerca de 28 anos. É bacharel em Comunicação Social – jornalismo. Autor dos livros MERCADOR (poesia/1998), SURTOS & SUSTOS (crônicas 2008); PARA QUE O FANTÁSTICO NÃO SE AUSENTE, (poesia/2012); e TRANSWEBHUMANAS – VINHETAS, METATRATADOS & BALADINHAS POÉTICAS (poesia/2019) pela Editora Kazuá (SP).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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