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Nunca se fotografou tanto! Vivemos numa época em que estamos cercados por imagens à nossa volta. Nosso olho, órgão responsável por um de nossos sentidos, a visão, talvez esteja apenas programado para o ato de olhar aquilo que nos rodeia. Mas isso não significa que estamos em condições de lançar um olhar crítico sobre o mundo. Nossa percepção encontra-se limitada ao que esse órgão consegue decifrar, sem notar o que pode estar além.
O livro “Filosofia da Caixa Preta” é uma obra de Vilém Flusser, filósofo tcheco naturalizado brasileiro, que aborda o uso da fotografia, estimulando a reflexão sobre o assunto. No capítulo “A imagem”, o autor começa dando uma definição simplificada e ao mesmo tempo abrangente: “Imagens são superfícies que pretendem representar algo. Na maioria dos casos, algo que se encontra lá fora no espaço e no tempo”.
Estudos realizados sobre pinturas rupestres, descobertas em cavernas, nos dão conta de que a finalidade delas era expressar uma ideia, uma mensagem calcada no estilo de vida do homem primitivo. Embora sejam vistas muitas vezes pela ótica artística, na verdade elas eram uma forma de expressão, de comunicação entre eles. Portanto, carregavam consigo a intenção de representar algo, que seria decifrado pelo olhar dos membros do grupo.
Com o passar do tempo, o homem desenvolveu outras formas de expressão mais elaboradas, passando pela linguagem, até chegar à escrita, que continha símbolos e códigos a serem interpretados, com a finalidade de representar e transmitir ideias, contendo sempre uma infinidade de intenções.
No século XIX, portanto, recentemente, a fotografia surgiu para “retratar” imagens e padrões da época, por essa razão chamada de retratos, e, dessa forma, já traziam com elas uma mensagem implícita, e, às vezes, também explícita em seu conteúdo.
Se atentarmos para o fato de que qualquer imagem, por mais “simples” que seja, é resultado da ação de um fotógrafo, munido de seu aparelho fotográfico, que direcionou o seu olhar para uma “situação-objeto” e fez seu registro, com intuito de transmitir uma ideia, uma mensagem para ser decifrada, perceberemos a importância de se refletir sobre esse modo de linguagem visual.
As dimensões de uma foto exprimem a ideia de quem produziu ou reproduziu determinada imagem. Mas, às vezes, impedem que sejam compreendidos os fatos e situações que dimensionam o contexto impresso nessa imagem plana.
O autor explica que uma foto extrai das quatro dimensões espaço/temporais duas delas: comprimento e largura. Oculta as dimensões de profundidade e tempo, mas, contraditoriamente, permite-nos usar nossa capacidade de imaginação para compormos o que dela foi ocultado.
Usamos nossas experiências para inserir a profundidade abstraída do momento captado, tanto no sentido espacial como no sentido contextual e perceberemos o contexto que extrapola o que foi reproduzido.
Quanto ao tempo, existe toda uma evolução de fatos que levaram ao momento da imagem captada que pode ou não ser percebida ao olharmos seus contornos. Mas, indubitavelmente, a imagem pode perpetuar um instante efêmero através da capacidade de estatização deste.
Conforme palavras do filósofo Roland Barthes, “Aquilo que a fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente”.
Segundo Flusser, existe a necessidade de uma “Filosofia da Fotografia”, que proporcione uma visão de como esta vem sendo utilizada, tanto pela pessoa comum como por aqueles que delas querem extrair algum proveito, seja financeiro ou ideológico. Enfim, uma obra para repensarmos o uso da linguagem visual, para que esta traga mais do que simplesmente progresso financeiro; traga desenvolvimento humano.
Crônica publicada no blog da “Revista Vicejar” em 22.05.2021:
LINK: https://revistavicejar.blogspot.com/2021/05/um-mundo-de-imagens.html
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IMAGEM SUGERIDA: enviada pelo autor