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Por mais que passe o tempo não consigo me livrar de medos e temores. Pensava que o mundo era ali mesmo, na cidade onde nasci com suas praças, ruas, igrejas e um povo simples e crédulo que tal como eu, não sabia de nada.

Quando um dia meu pai disse que ia viajar fiquei pensando se era coisa boa ou ruim. Ele vai de trem, dizia minha mãe. O trem enrolado em fumaça se embrenhava na mata e se perdia de vista. Ficava ali estarrecida a me perguntar: o que haverá no outro lado do mundo? Quando ele voltou, perguntei para onde tinha ido. Para uma cidade chamada Recife – é tão grande que dentro dela cabem bem umas duzentas da nossa. Por alguns dias fiquei muito triste. Os adultos diziam as coisas sem maiores explicações. Então eu ficava sem conseguir compreender os mistérios da vida nem os caminhos do trem.

Quando meu pai viajava, as noites ficavam mais longas e agradáveis. Minha mãe, depois do jantar, ali mesmo à mesa contava histórias até o sono chegar. Suas histórias eram simples do tamanho da nossa compreensão. A gente gostava. Várias vezes nos falou de Mila moradora da fazenda do seu pai. Viera de Portugal na companhia de um casal francês. Dizia que ela jamais conseguira falar com desembaraço. Imitava seu jeito e a gente ria sem susto e sem medo até o trem apitar avisando que o silêncio estava de volta.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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