Djanira Silva 15 de julho de 2021

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No meio do caminho, adormeceu. Acordou. Alguém chamava. Sem norte e sem rumo chegaram-lhe os ventos da noite, chegaram-lhe as angústias. Dores lancinantes ameaçavam-lhe a liberdade.
E a voz que o chamara, onde estaria? Abria-se um mundo ao seu chamado.
Barulhos estranhos faziam-no estremecer. Os pés pequenos, presos ao nada, devolviam-no às profundezas do medo. à leveza da loucura. Imagens bizarras formavam-se nas passagens. Vozes estranhas o acusavam. Sentia, que, para ser livre precisava inaugurar um mundo. Um não sei quê, tolhia-lhe a visão. Cego, ou quase cego, jogou-se na agonia. Precisava partir em busca da vida..
As cascatas se uniam e cantavam coisas longas. As dobradiças do vento rangiam na eternidade. Gemidos, luz, mistérios, sombras.
Saia de um abismo para uma manhã que começava a entardecer. A cada instante a voz chamava.
Uma mancha, ora vermelha, ora negra, se esvaía, se desintegrava. As dores do medo o intimidavam Ali mesmo, ele soube que o homem é um ser escravizado aos próprios nãos, não pode voar, não exala perfume e não é eterno.
De repente, caiu num mundo branco, cheio de silêncio. Precisava chorar para receber a vida.
A voz que o chamava, finalmente calou.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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