[email protected]

1 – Festa de São Pedro do Povo de Deus

Por que apenas São Pedro?…

Porque, de fato, é de quem o povo se lembra, todo ano, por sinal, no dia mesmo que a tradição reconhece como o dia do seu martírio, 29 de junho, “dia de São Pedro!”. Por razões práticas, pelo fato de o dia 29 de junho não ser mais feriado, quando esta data não cai no domingo, no Brasil, a celebração litúrgica acontece no domingo mais próximo do dia 29 de junho, seja antes seja depois.

São Paulo, em que pese sua importância para a vida das Comunidades cristãs e para toda a Igreja, entre nós, não caiu no gosto popular. E como já tem uma grande cidade, a maior do país, com seu nome, comemorando seu aniversário justamente no dia em que a Igreja comemora, liturgicamente, a “conversão de São Paulo”, parece pastoralmente mais conveniente, celebrar este grande Apóstolo, por sinal, o Apóstolo das Nações, nesta data. Semelhantemente ao que ocorre, no Brasil, com o dia 29 de junho, quando o dia 25 de janeiro não cair no domingo, poderia celebrar-se a sua festa no domingo mais próximo. E haveria o “Domingo de São Pedro” e o “Domingo de São Paulo”.

Mas vale a pergunta: por que apenas São Pedro caiu no gosto do povo?…

É possível que o fato de ser de Paulo gente da elite, tanto religiosa, quanto civil (haja visto que possuía cidadania romana), seu jeito “fariseu”, de grande rigor moral, e seu nível intelectual, o tenham tornado menos simpático ao povão.

Pedro, ao invés, ora “faroleiro”, como todo pescador, ora fraco, como todo pecador, parece mais próximo da experiência existencial e cotidiana do povo, cativando assim, mais naturalmente, sua simpatia.

É interessante perceber como Jesus, em sua divina grandeza e coerência, tanto sabe premiar este pobre pescador com a distinção de considerá-lo o “primeiro servidor” entre os Apóstolos, pela espontaneidade e entusiasmo da sua fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” (Evangelho de Mateus 16,16), quanto sabe misericordiosamente perdoá-lo nos seus momentos de fraqueza, sem por isso, diminuir a sua consideração ou retirar-lhe a incumbência. Vale a pena recordar a cena da “negação”, tal como retratada no Evangelho de Lucas:

<<Eles prenderam e levaram Jesus à casa do sumo sacerdote. Pedro seguia Jesus de longe. Acendram uma fogueira no meio do pátio, e sentaram-se ao redor. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo. Encarou-o bem, e disse: “Este aqui também estava com Jesus!” Mas Pedro negou:” Mulher, eu nem o conheço.” Pouco depois, outro viu Pedro e disse: “Você também é um deles.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou, não.” Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: “De fato este aqui também estava com Jesus, porque é galileu.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei do que você está falando.” Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou, e olhou para Pedro. E Pedro se lembrou do que o Senhor lhe havia dito: “Hoje, antes que o galo cante, você me negará três vezes.” Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.>> (Evangelho de Lucas 22,34-61).

A este mesmo Pedro, após a sua ressurreição, Jesus perguntará, coincidentemente, por três vezes: “Simão, filho de João, você me ama?”… E esse diálogo, exigente e insistente, assim foi descrito por João, no quarto Evangelho:

<<Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros.” Jesus perguntou de novo a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Tome conta das minhas ovelhas.” Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: “Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas.”>> (Evangelho de João 21,15-17).

E o discípulo, que por três vezes negara seu Mestre, precisou professar por três vezes seu amor ao mesmo, para receber dele, por três vezes, igualmente, a missão de cuidar do rebanho, até o ponto de dar a vida pelo mesmo, como fizera seu Mestre (cf Evang. de João 21,18-19).

Mas o mais interessante vai ser encontrar o próprio Pedro, mais tarde, em pleno exercício do seu ministério, escrevendo para pessoas recém-batizadas (pasmem!) essas solenes e grandiosas palavras:

<<Aproximem-se do Senhor, a pedra rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo. (… …) Vocês, porém, são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas daquele que chamou vocês das trevas para a sua luz maravilhosa. Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus (…).>> (1ª. Carta de Pedro 2,4-10).

Que maravilha, escutar este pescador de peixes feito “pescador de gente” (cf Evangelho de Mateus 4,19), considerado por Jesus como “pedra” de base da sua Igreja (cf o Evangelho de hoje: Mateus 16,18), humildemente reconhecer, primeiro que a “pedra fundamental” mesma da Igreja é Jesus. Em seguida, olhar para todos e todas nós com essa compreensão grandiosa: vocês todos e todas são pessoas chamadas a fazer parte da construção do “Templo” verdadeiro de Deus… Vocês são as “pedras vivas” deste Templo!… Mais: vocês são chamadas e chamados a exercer um “sacerdócio santo”, a “oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo”… E como “raça eleita, sacerdócio régio, nação santa”, como “Povo de Deus”, vocês são as pessoas destinadas a “proclamar as obras maravilhosas” de Deus, ou seja, vocês todos e todas são as testemunhas do Evangelho.

Pelo visto, a Igreja confiada por Jesus aos cuidados de Pedro nada tem a ver com uma Igreja clerical, onde cordeiros e ovelhas ficam o tempo todo dependendo da iniciativa e das ordens  dos pastores… Pelo visto, a Igreja confiada a Pedro por Jesus é coisa de todos e todas nós: quando nos encontramos reunidos e reunidas em nome de Jesus, “ele está no meio de nós” (cf Evangelho de Mateus 18,20), somos com ele e nele o Templo vivo de Deus… Todos e todas somos sacerdotes e sacerdotisas, a ofertar o que realmente agrada a Deus, nossas vidas, em Jesus, com Jesus e por Jesus a Deus (cf Carta de Paulo aos Romanos 12,1-2), Eis o que celebramos no “ofertório”, cada vez que fazemos a Ceia do Senhor… Todos e todas, testemunhas assumidas da Palavra que liberta e salva a humanidade…

Eis a Igreja, NÓS! Que, já no Sermão da Montanha, somos gente destinada a ser “sal”, que fertiliza, dá sabor e conserva… “luz”, que resplende pelas “obras”, as quais levam as pessoas a “louvar o Pai”… “fermento”, que transforma toda a massa (cf Mt 5,14-16; 13,33).

Imaginem quando, pelo menos, boa parte das pessoas batizadas se conscientizarem disso e o assumirem!

Imaginem o que seria o Brasil, “o maior país católico do mundo”, se todas as pessoas que, desde o início da colonização, 521 anos atrás, tivessem sido evangelizadas de modo a desenvolverem e exercerem essa consciência, essa postura, esse desempenho profético, sacerdotal e régio-pastoral!

São Pedro, pescador e pastor, servidor de um povo com esse perfil, rogue por nós!                            Reginaldo Veloso, Presbítero leigo das CEBs

Ontem, 03.07.2021, foi mais um grande dia de manifestação do Povo brasileiro, gritando sua indignação contra a “Política da morte”, a que a Classe Trabalhadora e o povo mais precisado estamos submetidos… Momentos como este honram a Memória de São Pedro e de todos e todas que, ao longo da História, têm dado suas vidas pela causa da Vida, de um mundo diferente, um mundo de justiça, igualdade e Paz, o mundo do BEM VIVER! Importante será continuarmos mobilizados, até que vejamos a grande mudança acontecer: para nós cristãos e cristãs, um mundo que realize o sonho do Reino por Jesus anunciado, “assim na terra como no céu”!

2 – Domingo dos Doze Enviados
Marcos 6,7-13
Não é porque somos os mais inteligentes, os mais hábeis e preparados, que Deus conta conosco para alguma coisa…

Por entre pescadores e pecadores, Jesus escolheu os que ele quis e enviou. E a missão era, simplesmente, a de chamar o povo para o acordo com Deus (conversão) e libertá-lo das forças do mal que imperam no mundo, adoecendo-lhe as almas e os corpos…
A importância dos escolhidos e enviados não está nas coisas que normalmente dão IBOPE, prestígio e status. Antes, é entre os mais simples que Deus e seu filho fazem suas escolhas.
A importância dos enviados está, então, em quem os envia: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”, dirá Jesus na tarde do domingo da Ressurreição.
Nosso encontro, hoje, aqui e agora, com o Ressuscitado, nosso canto, especialmente, deve ser capaz de nos renovar a consciência, a coragem e até o prazer de sermos, hoje, aqueles e aquelas que o Senhor envia. E tem tanta gente à nossa espera…

Por sinal, depois de amanhã, 13 de julho, completa 31 anos o ESTATUTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, o E.C.A. (13.07.1990).

Por acaso, você é dos que só escutam ou leem certo tipo de reportagens policiais que, propositalmente, caricaturam o E.C.A como defensor de malfeitores mirins, que amanhã serão grandes criminosos?… Se você se der um tempinho para ler, pelo menos, os 3 primeiros capítulos desse Estatuto, você vai entender melhor por que tanta gente jovem se perde na estrada da vida: seus direitos elementares nunca foram respeitados… cresceram sem a mínima condição de crescer de maneira saudável e positiva… são vítimas do descaso dos governos  e de toda a sociedade… E ainda têm que pagar, muitas vezes, com a morte, simplesmente exterminados… Sinta-se chamado por Jesus participar das Campanhas, Pastorais e Movimentos que promovem e defendem os Direitos das Crianças e Adolescentes, especialmente, das Crianças e Adolescentes  das periferias empobrecidas, filhos e filhas da Classe Trabalhadora, os primeiros e primeiras no coração de Deus!

PAPA FRANCISCO: II Encontro com os Movimentos Populares – Bolívia, 09.07.15:

Boa tarde a todos!

Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me ver-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado, Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro. Então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» presidido pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada diocese, em cada comissão «Justiça e Paz», uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro. Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra.

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Vídeos enviados pelo autor.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]