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Meus queridos amigos

Entre suas cartas famosas, reunidas pelas Edições Loyola, no volume Ilustríssimos Senhores, na carta a Maria Teresa da Áustria, o Papa Joao Paulo I, em seus tempos de Patriarca de Veneza, conta que certos convites para festinhas de jovens traziam as curiosas iniciais (SBI). Os jovens logo entendiam que a recomendação SBI significava “Sem Bagagem Incômoda”, isto é, sem os pais.

E eis-nos diante do tema complicadíssimo de como devem os pais agir diante de filhos e especialmente de filhas de 18, 17, 16, 15, 14 e as vezes 13 e 12 anos de idade que querem porque querem ir a uma festinha em casa de coleguinhas, mas ir sem a incômoda presença de adultos. Que aconselhar a pais e mães que nos consultam a respeito?

Proibir? Os jovens ficam irritadíssimos. Acabam descobrindo meios e modos de fugir. E, o que é mais grave, perdem a confiança dos pais e passam a enganá-los tranquilamente. Permitir? Mas a simples alusão — SBI — Sem Bagagem Incômoda — sem os pais, já não é indicação de abusos grossos, grossíssimos na tal festinha?

Os pais muitas vezes comentam: “Pensa que, ao menos, os pais do jovem ou da jovem que convida vão estar presentes? De modo algum. Ou já foi aproveitada uma noite em que os donos da casa estariam ausentes, ou eles foram amavelmente despachados de casa pelo filho ou pela filha.” Uma mãe que conseguiu ficar em uma festinha de jovens, ao perguntar a uma convidada como a festa estava andando, recebeu esta resposta: “Está demais e está de menos.” E a jovem explicou: “Tem luz demais e bebidas de menos.”

É fácil deitar bonitos conselhos aos pais que enfrentam problemas dos jovens de hoje. A teoria, na prática, é muito diferente. Mesmo pais que foram alimentando a confiança dos filhos e das filhas crianças e hoje não poupam inteligência e sacrifício para entender filhos e filhas jovens, mesmo estes pais ficam muitas e muitas vezes sem saber como agir.

Talvez o caminho mais inteligente ainda seja tentar agir sobre jovens através de jovens. Fico pensando no bem imenso que, salvo engano, fez e faz entre nós o clubinho de jovens onde o jovem salesiano Padre Ivan atua com enorme inteligência e habilidade. Fico recordando o bem que estava fazendo a muitos jovens, como o nosso inesquecível Padre Antônio Henrique, cujo trucidamento, além do mais, foi um crime contra a juventude.

Que Deus ilumine a todos os que de inteligência e coração abertos procuram, de modo discreto e hábil, ajudar a juventude de hoje, que está longe de apenas apresentar problemas, porque dispõe de qualidades que são autenticas riquezas. Quinta-feira, 13.3.1980

Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa.

 Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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