Mauricio Soares 15 de julho de 2021

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Caruaru, 28 de junho 2021

Ao amigo Mizael
E amiga Ana Maria Barros

A paz habite em teus corações

Humanidade é pensar a humanidade;
O que nos faz ser humanos?
Tornar-se humno…
Um a-se-fazer – Ser.

Morre Lázaro

Um povo que comemora a morte do outro. A marte de Lázaro comemorada pelo Brasil a fora. Estão a aplaudir o que mesmo? a morte de um bandido que aterrizava uma população? Ou será que nossos aplausos são com a vitória do mal sobre a nossa humanidade? Isso é: o terror do mal nos fez esquecer do bem, portanto, estamos perdendo o senso de humanidade, dando espaço ao entendimento que a justiça é o mesmo que vingança? Precisamos pensar o nosso modo de entender a justiça e o que é ser justo.

Tenho a sana consciência que as pessoas hoje não vão compreender o que falo, penso ou digo. Aplaudir um ato de morte, poucos percebemos a criticidade desses aplausos ou a complexidade da situação que envolve a morte de lazaro. Sim, porque o que é na compaixão que se manifesta o senso de humanidade e de justiça. Estamos expondo o nosso modo de ser humanidade.

Muitos dizemos que a morte de um estuprador, matador e bandido é pouco, em nós se encontra aflorado o entendimento de justiça como vingança ´- castigo pelo castigo que não repara nada. A justiça é o senso de reparação de distribuição.

Em meu sentimento cristão não posso ver alegria nessa cena de morte, nenhuma morte é motivo de comemoração, mas de comiseração, sentimento de piedade pela desumanidade do outro, que se perdeu de si mesmo, não se vendo no rosto do outro. Estamos deixando de ser complacente, aliais as pessoas não sabem mais o que é ter comiseração e complacência. Comiseração – compaixão pelo outro em seus dilemas de desamor para com o próximo. Complacência ser benevolente para com o processo de reabilitação do outro, um buscar lutar para que o outro se encontre com sua humanidade, por nossa dócil condescendência de amor.

As pessoas têm se acostumadas com a ideia fascista da eleita dominante – branca, que bandido bom é bandido morte, o mal se combate com o mal, nossa ação é uma reação a violência do outro que deve ser exterminado. Elas se esqueceram do mandamento divino de não mata; nada de olho por olho dente por dente, e que acima de tudo se encontra o amor – humanidade, mesmo nos defeitos mal da vida do outro, a tarefa humana é buscar salvar a dignidade do outro, ele é um ser humanos, acima de tudo humanidade.

Não posso compactuar com o mal; posso sim dizer que a prisão de lazaro era necessária, e o levar a pagar – reparar-se por seus crimes é uma atitude de justiça humanitária; essa sim é uma atitude cristã; traz alivio ao povo de Goiás que se encontrava acuado – como medo da morte por causa de um insano criminoso por dolo ou culpa, pois toda ação que destrói a vida é dolosa ou culposa, e assim tem-se que ser posto diante de si mesmo numa pena – reparação do ser chamado a ser responsável.

Muitos poderão e vão dizer, que tenho pena de bandido. Sim, tenho misericórdia de toda criatura viva, todo ser humano é digno de compaixão – comiseração, pois, por sua insanidade espiritual e mental se esquece da sua humanidade, não sendo humano para consigo mesmo, e portanto, com os outros. Vão dizer: é porque não foi com sua família ou sua filha.

Sim, não foi, sinto pena – como reparação responsável do lazaro, que não se encontrou com sua humanidade se desencontrou do seu centro interior; ele não se viu como ser humano, se vendo no lugar do outro que ele molestou, tenho compaixão por que ele se perdeu de si mesmo. Lázaro perdeu a sua humanidade; triste pena, ver que o outro não se encontra dentro do sentimento – senso de humanidade, voltou ao estado dos instintos mais primitivo – egoístas. Mas, a questão central não é ter pena ou não de bandido; defende ou não defender pessoas de má conduta. Nosso dilema social – humanitário hoje é estarmos nos distanciando da nossa humanidade. Não se trata de defender bandidagem como falamos; sim de nos perguntar sobre a normalidade do mal e como estamos o instituindo na vida social e individual. O que estamos fazendo com o senso de humanidade? Ainda trazemos em n´so o senso de indignação ética?

Toda vida perdida é uma vida humana que deve ser lamentada, e um ser humano não pode perder de vista a sua humanidade – senso de complacência diante do desumano agressor, pois, nos tornamos pior que o outro que nos molestou.

Um crime não legitima um outro crime, uma vida não pode ser paga com outra vida, porque o caminho da justiça não é a vingança, mas a reparação, isso é: restituir ao outro a sua dignidade, o lavar ao encontro de seu ser mais profundo que é o se ver como gente – imagem e semelhança de Deus o Pai criador. Nosso desafio hoje: ter uma postura ética diante do mal que desumaniza as pessoas. O mal leva a gente para longe do projeto de Deus; que é nos fazer novas criaturas a cada dia, no processo evolutivo de nos compreender como seres humanos.

Lazaro é uma vítima da sociedade, ela não pode o recuperar o solta para ele continuar fazendo o mal; a soltura de um criminoso não reencontrado com sua humanidade só mostra a falência de nosso sistema presidiário, as lacunas da nossa justiça penal, que não quer ou pode restituir a dignidade do outro, mas, simplesmente o punir já que não pode o levar a se encontrar com seu senso de humanidade. E a gente festeja a morte como se fosse algo maravilhoso, nenhuma morte é motivo de aplauso. O injusto deve ser conduzido a justiça; e o justo é se encontrar diante de sua humanidade, se ver em seus delitos, em sua serventia ao plano do mal.

Não, não … não sou defensor de bandidos, ao contrário penso que cada um/a deve ser responsável pelos seus atos contra a vida e a sociedade de direito.

As pessoas têm que serem levadas a se encontrarem com os seus erros diante da justiça, para serem encaminhadas para uma nova significação para o seu viver. Todos que erramos ou comentemos um crime temos que nos encontrar diante da justiça ou do justo, para sermos reparadores do mal, nos vendo dentro da dor do outro a quem fizemos ou comentemos um crime – maledicente – perverso, que não nos dignifica e prejudica o outro com a sua morte ou aniquilação.

A questão que vejo na alegria da morte de Lázaro é a nossa falta de reflexão – crítica de si mesmo, de reflexão inteligente que nos faz entender – compreender melhor a nossa sociedade que se encontra a caminhar para o lado da perversidade – mal.

Se a vingança ou a morte resolvesse as coisas –, os males sociais e humanos, as pessoas não praticavam o plano do mal, maquinado o mal a cada dia, fazendo o mal pelo mal, sendo cooptado pela pura maldade. O puro mal é que me torna aliado de forma sutil da maldade, não vemos, no entanto, estão nos pervertendo, nos distanciando da humanidade.

O mal não tem projeto de humanidade ele tem plano, sim, o plano nos faz coniventes com a maldade; no projeto temos expectativas de um mundo melhor elaboramos saídas, para nos tornar humanos – um ser melhor do que fomos melhores que outrora, dentro da sociedade perversa. Mas, o que temos: uma sociedade sem projeto, e que cada vez mais de forma irreflexiva se alia ao mal. Estamos banindo para uma onda conservadora – ultrarreacionária as conquistas humanas na defesa dos direitos humanos.

As pessoas não percebem que a vingança só faz aumentar a criminalidade a cada dia, a violência gera mais violência; e cresce sutilmente o império do mal, essa é a sutileza do mal: sem nos perceber estamos colaborando com o plano da maldade institucionalizada, que como o joio no meio do trigo cresce na surdina da noite; noite de densas trevas, nos esconde na sutiliza do mal hoje, nós nos distanciando da nossa humanidade.

Portanto o que temos a fazer?  Como mudar o mal social da criminalidade da violência que aumenta a cada dia?

Sou ainda um nostálgico seguidor de Cristo Jesus; na verdade somos muito poucos hoje que acreditamos no Evangelho, que procuramos a vitalidade evangélica, como força interior que pode mudar o mundo; mudando o coração das pessoas, nosso projeto transformar no mundo e vencer o mal, o ver sendo derrocado – derrubado. O mal que se instala do coração do ser humano hoje é a sutileza de um sistema de injustiça social, é normal marta pessoas, sejam elas cidadãs ou marginalizadas pela maldade social – exclusão, como falamos matar bandidos, normal.

O que nos apresenta o ensinamento de Cristo para os nossos dias atuais? Sim, sou um bobo cristão!!!

Gosto de prescrutar Jesus falando no meu ser interior. Ele está me elucidando o que é ser humano: amar-ser e ter afeto pelo outro; ser solidário – amante da compaixão pelo outro; ser fraterno – sendo amante de cada ser vivo no plante e na vastidão do cosmo, um universo de beleza infinita e de incontáveis criaturas.

Gosto de Ser esperança – viver acreditando na abertura do outro ao amor, que ele pode mudar e se encontrar com a sua verdearia condição de ser, filho – filha de Deus; sendo conforme à imagem de Cristo. Gosto de escutar as palavras que sai da boca do divino amor, meu amante e eternamente o meu amor, que me ama nos meus falimentos – fraquezas de quem sou.

Aprendi da boca de nosso Senhor Jesus – meu amado, a lutar pela justiça social, pois o mal da humanidade que gera a maledicência no coração do ser humano se chama injustiça social:

A miséria econômica – fome que desumaniza as pessoas; a política – corrupta que traz miséria humana para todos e todas; a religião – fanática que em nome de Deus cria fundamentalismos conservadores que nega o afeto de Deus dentro da diversidade; a sociedade – lascívia do sensualismo que gera banalidade ente os afetos, numa afetiva – falta de amor próprio e para com o outro. Esses são os frutos da injustiça, o joio semeando no coração do ser humano na sutileza do mal institucionalizado pela sociedade neoliberal – tudo é consumo, o ser humano se torna coisa, simples matéria produtora de riquezas, e humanos desconhecem a sua humanidade no rosto do outro objeto de escarnio social. O ser humano é na cultura do espetáculo – mundo espetaculoso objeto de sensacionalismos, esse é o plano da sociedade que se alinha sutilmente ao mal. Não vemos, mas, estamos sendo corroborados da maldade. Tudo de forma muito sutil, e estamos entrando no plano da maldade social.

Sou sabedor que ao escrever e tendo essa forma de pensar não serei aceito por esse mundo, que de há muito se encontra numa falta de pensar criticamente a sua postura de humanidade; a luta por justiça social e defender os direitos humanos é se pôr do lado dos bandidos para os transformar, lhes fazendo ver a sua dignidade humana. Não pretendo defender bandidagem, nem de pobre e muito mesmo dos ricos que têm um plano alinhado ao sentimentalista sensacionalismo religioso – neopentecostal, que apela para justiça divina, mostrando Deus como que o justo que castiga; como se Deus fosse um punir do ser humano lhe ceifando a vida, lhe imputando um castigo eterno. Devíamos dá mais atenção as palavras inspiradora de Ariano Suassuna no Alto da Compadecida.

Quero sim ter o direito de questionar: como é que uma polícia com um batalhão inteiro não pode prender um bandido – ser humano solta entocado na mata, com os recursos tecnológicos e inteligência cientifica? A polícia matou, pois o bandido -ser humano produto do sistema mostrou a incompetência da polícia, o bandido – ser humano estava pondo em xeque o sistema de repressão policial, Lázaro humilhou as polícias.

Quero compreender porque os fazendeiros de Goiás estavam protegendo o lazaro o bandido ser humano? Eles que vivem matando – perseguido os pequenos produtores daquela região.

A quem a morte de lazaro interessava, o que sua morte esconderia, quais os interesses econômicos que se encontrava por traz?

Quanto se gastou de recursos econômicos para matar Lázaro e sustentar um batalhão da polícia militar, que não conseguia fazer nada? Quero resposta que façam-me compreender coisas simples.

A questão é: estamos tão afundados na força do ódio, que não os perguntamos mais. Não estamos vendo que a força do mal não quer a punição do crime – criminoso, mas, banir o senso – sentimento de amor, fraternidade e solidariedade entre os iguais – seres humanos; sim, enquanto seres humanos partilhamos a mesma condição – somos seres falíveis, somo seres vivente no falimento – somos factíveis.

Estamos assistindo pela televisão a cada dia no sensacionalismo midiático o mal destruindo a sensibilidade humana, nossa humanidade é que está sendo cooptada pelo mal. O que nos faz ser humanos é ter misericórdia uns pelos outros, é ter compaixão – comiseração – complacência, é sermos humana reciprocidade de amor.

O mal da injustiça quer que percamos o senso de indignação ética, que nos acostumemos com a morte execução criminosa do outro, é que violência gere mais violência para que possam nossas consciências sejam dominadas; e que sejamos apenas os produtores das riquezas, sem a elas termos acesso.

Para que o mal impere devemos aplaudir – prestar culto a violência. Assim, olhamos a nossa humanidade como algo que não presta e tudo vale, para que o mal prevaleça. Não vemos que estamos aplaudindo a desgraça da nossa humanidade.

A maior sutileza do mal é fazermos o mal achando que estamos fazendo o bem, somos nós mesmo que estamos nos fazendo o pior de todos os males; estamos nos perdendo para o mal e não vemos que aplaudir um genocida, uma execução, é esquecer a nossa humanidade.

Que a morte de Lázaro não seja a nossa morte ou dizendo melhor a morte da nossa humanidade. Que possamos ver o quanto é perverso o sistema; ele nos faz associamos ao mal, achado que estamos fazendo o bem. Olhamos a desumanidade e não temos senso de indignação ética, estamos nos distanciando da nossa humanidade, perdendo a condição que somos: filhos da compaixão e misericórdia.

Mauricio Soares
Querendo não ser coabitado pelo mal

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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