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O antigo e maior embate do homem encontra-se no seu apogeu. A batalha eterna da vida contra a morte, aqui representada pelo tempo, está a mil. Já não basta mais ao Homem perpetuar-se através dos filhos, de obras faraônicas, de grandes impérios comerciais ou até mesmo da arte. A palavra de ordem do cidadão deste século é vencer o tempo a qualquer preço.

Para tanto, avanços científicos antes imaginados apenas nos gibis e nos cinemas de ficção científica, tornaram-se realidades. Vide a comunicação via webcam, a pesquisa com células-tronco e os vários tipos de transplante de órgãos vitais do corpo humano que, há poucos anos, se não fossem feitos, eram fatores mortais. Além, é claro, das mais avançadas cirurgias estéticas na busca da eterna juventude.

Mas, num mundo em que as palavras de ordem são produtividade, competitividade e eficiência, há muito perdemos o “eu”, em meio a tantos compromissos e tarefas inadiáveis.

O que sobra são pessoas cada vez mais neuróticas e o forjamento de fugas as mais diversas. Por exemplo, os esportes radicais. Para mim, não passam de neurose acumulada, resultado do ritmo apressado e robótico da louca vida contemporânea nas grandes cidades. E, neurose, não esqueça, é repetição.

O escritor chinês Lin Yutang observou bem esta questão do modo de vida apressado dos ocidentais, no livro A Importância de Viver, quando afirmou: “um homem que tem de estar indefectivelmente em determinado lugar às cinco em ponto, já arruinou a tarde inteira”. Assim, esquecemos também daquele velho ditado chinês que diz que a utilidade do tempo é não ser utilizado.

Enfim, chegamos a um tempo sem tempo, no qual a pressa, a repetição e a futilidade das coisas ditam o nosso comportamento diariamente. Se bem que Fernando Pessoa já nos alertava para a necessidade da contemplação da natureza e do tempo para o “eu”, quando escreveu que “a nossa única riqueza é ver”.

E assim seguimos nessa luta desigual contra Cronos, trazendo este deus ironicamente preso ao pulso na ilusão de que o dominamos. Com tempo para isso ou para aquilo, mas sem o tempo do homem, o tempo de nada.

Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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