Queridas amigas – Prezados amigos
Esta era para ser minha mensagem da Pàscoa para meus amigos na Alemanha.
Minha saudação cordial neste tempo difícil em que uma só preocupação nos une a todos. Se me perguntam: Como vai? – eu custo para responder. Melhor é perguntar: O que você faz no dia a dia neste tempo de exceção? Ora, bem cedo celebro a missa do dia em nossa capela com frei Cícero e alguns amigos (amigas) de perto. Na hora do café tem atualização política, pois está presente Dr. Rubens, muito versado nas novidades da cidade e do Estado. Quando não entendo a confusão, eu só pergunto uma vez; pois a segunda explicação não melhora. Eu só entendo que no momento Prefeito e Governador combatem a crise com estratégias contrárias.
Depois do café vou regar as plantas. A natureza não sabe da crise. A colheita de mamão e acerola, de manga e ata tem sido boa. Algumas famílias têm plantado feijão e arroz e melancia em terrenos baldios com bom resultado. Dona Nazaré falou: Deus não abandona seus filhos.
Algumas vezes chegam pessoas sofridas para derramar o sofrimento. Uma vez na semana vem o Aluandejara, de nove anos, que está aprendendo os acordes do violão. Umas semanas atrás vieram três Irmãs Postulantes para uma semana de retiro. Uma esperança: pois a casa retoma a sua função. Na quinta feira de manhã vem o advogado Fred que está no Caminho Inaciano e agora quer conhecer os Padres do Deserto. Um sábado destes vieram 14 pessoas da PASTORAL DE RUA, a metade deles sem endereço. Rezaram na capela como os mais felizes Filhos de Deus. Como desanimar com tanta confiança que nos é doada?
Uma vez no mês vou para o Seminário e escuto os teólogos como Diretor Espiritual. No ano passado tiveram que voltar para a casa dos pais para aprender o jeito das aulas à distância. Quem se deu bem foi Francisco, do interior de Picos que estava elaborando seu trabalho de graduação. Veio com tudo e escreveu sem distração. Todos chegaram mais maduros. A casa está mais cheia do que antes. Mas como vai ser o futuro com a nova onda da pandemia? Todo mundo calado para não provocar o futuro incerto.
Todo domingo celebro nas Comunidades em redor. Nós andamos todo tempo com o vento contrário das dúvidas. Pode ou não pode? Frei Cícero, mais cauteloso, me salva de maiores imprudências. O que não tem dúvidas é a minha Paróquia Virtual, que recebe todo dia uma mensagem e um canto via celular. Isto já faz mais de um ano. Todo dia tenho que caçar uma história nova: onde vou achar? Hoje encontrei O CRISTO DO OCEANO, devolvido do mar, achado numa praia de pescadores lá na França. O corpo não tem cruz. O povo o leva até a igreja e faz as traves da cruz. Porém o Cristo não aceita e é achado deitado no altar sem as traves. Tentaram outro tipo de madeira e nada. Chegaram a fazer uma cruz de ouro, igualmente perdida. O Cristo sempre descia da cruz.Finalmente o mar vomitou restos de um naufrágio, tábuas com as letras J e L. Todo mundo sabia que era do barco de Joâo Leonel, engolido pelo mar, assinatura do morto. Foi com estas traves que fizeram o madeiro da cruz, e desta vez o Cristo aceitou. Jesus é fiel àquele que passou na tempestade. João Leonel morreu, mas agora ele faz parte da obra da Redenção.
Vocês poderão perguntar: Você está fugindo da cruz? Evitando o tema que se impõe?
Porque não fala da mortandade? É porque vocês sabem de tudo. Porque não fala do governo infeliz? Ninguém aguenta mais. O perigo é muito grande. O mandatário não se preocupa com os milhares de mortos cada dia. Isto é vantagem para ele.
LULA LIVRE é uma sensação que, no entanto, se escreve em minúsculo. Terá ele a força de quebrar a prisão das mentiras que continua na cabeça de muitos?
Ontem tive que celebrar o velório de um empresário e logo depois o Sétimo Dia da finada Maria de Nazaré, na Comunidade de São Sebastião. Ela nunca faltava na missa. Depois da Benção Final uma filha foi ao microfone e abriu a fonte das lágrimas: todo mundo entrou num choro contido. Esta é a única coisa que a gente se permite, senão a MALVADA (a epidemia infeliz) fica mais zangada. O que será dos nossos sentimentos contidos? Isto sabemos tão pouco como tudo o que virá no amanhã.
Na política temos uma sensação que no entanto é escrita em minúsculo: LULA LIVRE. A falta de entusiasmo é prova de que: o anestesiado não tem força para perder. Mas não tem dúvida: Aí ressuscita a ESPERANÇA. O sol quando nasce também não dá gritos. A humilhação da Nação não será para sempre.
Estamos entre a Páscoa e Pentecostes. Ressurreição se espalha aos poucos. Não tenha medo de se alegrar.
Com um grande abraço da PEQUENA IRMÃ ESPERANÇA
Frei Adolfo Temme
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.