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Meus queridos amigos
“Os barcos a vela
Viram, tranquilos,
Passar,
Com rapidez incrível,
Os foguetes da astronáutica.
Sabem os velhos barcos
Que jamais serão peças de museu.
Depois de atingir os planetas,
Quando, em tarde de cisma
E em instantes de amor,
O homem supersônico
Precisar de calma,
De viagens lentas e sem fim,
Abrirá as velas
E se deixará conduzir
Pelo sopro de Deus!”
O progresso pode avançar, com enorme rapidez. Pode haver grande mudança de valores. Mas o coração humano continua e continuará aproximadamente o mesmo, através dos tempos.
Não falta jovem para dizer que amor já era, que se foi o romantismo.
Quando o amor chega de verdade e ergue o coração cheio, repete-se, em estilo de hoje, o amor imortal de Romeu e Julieta.
Os namorados, nos momentos de maior embalo, sentem necessidade de trocar juras de amor sem fim… Sabem que, em árvores e em certos muros mais expressivos, continua a gravação de corações, com nomes embaixo!
Pensar que a sociedade de consumo e o pragmatismo vão matar, vão aboli-lo, é não conhecer o coração humano. Quando vejo as estradas de outrora, cheias de curvas, de sombra e de mistérios, irem cedendo lugar a autoestradas, que são retas, que tem sua beleza, mas acabam monótonas e perigosamente hipnotizadoras para os motoristas, é fácil prever o que está acontecendo: a restauração de cidades antigas, a reconstrução de estradas pitorescas…
Depois da Segunda Guerra Mundial, os vencedores humilharam Veneza motorizando-lhes as gôndolas. Entende-se que haja barcos ligeiros para os apressados, para os turistas que se contentam em provar que passaram pelas cidades, colando, nas valises, letreiros de hotéis… Mas sempre haverá lugar para charretes, para gôndolas, para barcos a vela. Sempre haverá lugar para o encantamento de corações que se encontram e sentem necessidade de escapar do espaço e do tempo, mergulhando na eternidade…
Um balanço nas canções mais cantadas, não pelos velhos, mas pelos jovens — e jovens pra frente — permite ver que a música se torne mais ruidosa, inclui gritos, berros, mas hoje, como ontem e sempre, o amor é o grande tema. Amor, raras vezes bem compreendido.
Amor, quase sempre traído. Amor incompreendido…
Mesmo que amanhã existam nos supermercados olhos para namorar, como hoje se compram óculos, mesmo que amanhã haja corações de plástico para colocar no lugar dos gastos corações de carne, tudo o que se integrar na criatura humana passará a ser humano.
E os namorados de todos os tempos continuarão prometendo as suas amadas amor que será, hoje, maior do que ontem e menor do que amanhã… Quinta-feira, 17.10.1974
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Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa.
Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
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