(professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio,
decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio *)
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Maio é conhecido na Igreja Católica como o mês de Maria.  Nele se cultua especialmente a mãe de Jesus, reconhecida pela fé católica como mãe de Deus.  Durante  maio, portanto, uma reflexão sobre o mistério de Maria tem seu lugar e pertinência.

A devoção a Maria é algo muito característico do catolicismo. Na Igreja Católica Romana, a Virgem Maria é reconhecida pelo título de bem-aventurada. Reconhece-se nela um estatuto especial em meio a todos os santos e santas de Deus, inclusive a capacidade de interceder em favor daqueles que a seu favor recorrem por meio de orações e práticas devocionais. A teologia e o magistério católicos, no entanto, deixam claro que Maria não é considerada divina e as orações a ela dirigidas não são respondidas por ela, mas por Deus.

Porém, é fato que Maria ocupa um lugar destacado entre os católicos, os quais, além de a ela reservar diversos títulos honoríficos, cantam hinos em seu louvor, dirigem-lhe uma variedade de orações e peregrinam a diversos santuários marianos para honrá-la e louvá-la.

Catecismo da Igreja Católica diz que “A devoção da Igreja à Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão”. O culto a ela é chamado hiperdulia, enquanto o culto a Deus é a latria e o culto aos santos, dulia. Com isso a Igreja Católica demonstra que distingue a mãe de Jesus dos outros santos.

A figura de Maria tem interessado  pensadores e pesquisadores, dentro e fora da Igreja Católica.  Além de obras literárias, Maria tem chamado a atenção de pensadores agnósticos e ateus, como a psicanalista búlgaro-francesa Julia Kristeva e a pesquisadora espanhola Marina Warner, entre outras. A figura da mãe de Jesus inquieta incessantemente a mente atenta e, sem dúvida, brilhante da psicanalista e pensadora. Trata-se de um dos aspectos de seu pensamento que mais intriga os leitores cristãos, católicos e teólogos, devido a suas teorias fortemente contestatórias.

Kristeva questiona o estereótipo que a Mariologia tradicional impõe sobre as mulheres, mas ao mesmo tempo questiona o feminismo que “enquanto reivindica uma nova representação da feminilidade…dele parece que exclui ou minimiza a maternidade.”

A enorme importância que para Kristeva parece ter o mistério de Maria no imaginário religioso cristão é o fato de a relação dela com seu Filho Jesus – gerando quem a gerou, sendo anterior a ele em sua humanidade, mas posterior por sua divindade,  virgem e mãe simultaneamente – se tornar matriz para uma rede de outras relações muito complexas: a de Deus com a humanidade, a do homem com a mulher, a do filho com a mãe etc.

O passado ortodoxo da psicanalista Kristeva, que através de seu pai que era devoto fiel dessa Igreja, desempenha papel importante neste interesse por Maria. Ela diz estar convencida de que o catolicismo teve em suas mãos o mais poderoso discurso de todo o Ocidente sobre a maternidade  Agora, com a secularização, ela teme que esse discurso se perca, o que deixaria a cultura ocidental amputada de um de seus mais fortes e fecundos componentes.

Creio que os temores de Kristeva não têm muita razão de assustar-nos, já que a devoção a Maria continua muito presente no Catolicismo e os santuários e festas marianos. Aparecida e a festa do Círio de Nazaré ainda são os lugares mais procurados pelos fiéis católicos que ali explicitam sem temor ou pudor de nenhuma espécie o amor pela mãe de Jesus, que sentem como sua mãe também. A importância da mãe no Catolicismo ainda continua muito forte, apesar de todo o avanço da secularização.

 Maria é, portanto, além de todos os títulos que tem, a sempre amada. Mãe muito querida, a quem os fiéis se dirigem com confiança filial em todas as encruzilhadas de suas vidas, encontrando nela conforto e carinho.  Nesses tempos de pandemia, Maria tem sido certamente muito invocada.  Portanto, neste mês de maio acorramos a ela mais uma vez.

Obs: Maria Clara Bingemer é autora de   “Santidade:chamado à humanidade” (Editora Paulinas), entre outros livros.

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