1 – PENTECOSTES -B: o Espírito conduz a Igreja à plena Verdade
João 15,26-27.16,12-15

Discernimento, eis a questão! É do que mais se precisa, num tempo de tanta complexidade e confusão.

Há quase 56 anos (08.12.1965), se encerrava um Concílio Ecumênico, cuja importância maior tinha sido, justamente, diante dos “sinais dos tempos”, discernir o que o Espírito estava dizendo às Igrejas…

Durante algum tempo, as Igrejas se puseram à escuta e procuraram dar as respostas que o momento do mundo exigia. Na América Latina, particularmente Medellín/1968 e Puebla/1969, foram momentos expressivos de leitura da nossa realidade de “injustiça institucionalizada” e de respostas consequentes e ousadas aos desafios do Continente.

Mas não durou tanto tempo este fervor de mudança, de conversão, de busca sincera de resposta aos desafios da História, aos apelos de Deus.

Começando pelas mais altas cúpulas, de cima a baixo, como diz o povo, “se voltou à vaca fria”, à mesmice de um clericalismo imbecilizante, e de um devocionismo “festivo”, alienado, quando não, comercialmente manipulado.

O advento de FRANCISCO tem sido uma dessas irrupções espetaculares do Espírito, na História. De repente, qual suave e forte ventania, o Espírito passa desinstalando e sacodindo o mofo, e “acorda pra JESUS!” muita gente acomodada ou alienada. Mais uma vez, quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir pode regozijar-se com o cumprimento da profecia: “Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará a toda a verdade”!

É importante darmo-nos conta, de que estamos vivendo um “tempo de graça”, de chamado à mudança, à renovação. Diante das mudanças que o mundo trama e engendra, as Igrejas precisam colocar-se a serviço das mudanças que o Reino de Deus nos exige com urgência, para que ele, o Reino, “venha” e possa realizar-se “assim na terra como no céu”!

A Campanha da Fraternidade, cada ano, bem que nos motiva para o engajamento no esforço comum dos Movimentos Sociais Populares, de contribuir para as mudanças que precisam ocorrer em nossa Sociedade.

O “Grito dos Excluídos”, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CBJP, a própria CNBB, de várias maneiras e por vários caminhos nos convocam a tomarmos atitude, a nos engajarmos nas lutas dos Movimentos Populares e Sindicais, sem o quê, nenhuma transformação social de profundidade, amplitude e envergadura poderá prosperar nesse país de secular cultura do privilégio e da corrupção.

 Mas quem tem escutado este apelo?… Quem, em nossas Igrejas, se tem deixado conduzir pelo Espírito da transformação?… Sinceramente, há o que celebrar neste Pentecostes, que bem poderia ser uma culminância de mais uma Campanha da Fraternidade? Mas, se não vai ser “cume” de uma vida eclesial coerente e fiel ao Evangelho do Espírito transformador, que possa ser, pelo menos, “fonte”, isto é, nos desperte do marasmo de um cristianismo estéril, que em nada corresponde ao que Jesus nos sugere quando nos convoca a sermos “sal da terra”, “luz do mundo”, “fermento na massa”, de modo que as “pessoas vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”! (Mt 5,16).

E são muitas as urgências do momento. Que tal, encontrarmos formas de mobilização em apoio à CPI da COVID-19, para que não termine “em pizza”?… Que tal reler a Mensagem de 1º. de Maio do MTC (em anexo), e definirmos nossas prioridades de ação?… Urgentíssimo é deixarmo-nos “guiar pelo Espírito” (cf. Rm 8,14).
Reginaldo Veloso, presbítero leigo das CEBs

<<De fato, todas as pessoas que são guiadas pelo Espírito de Deus são filhos e filhas de Deus. Porque vocês não receberam um espírito de escravos, para de novo estarem com medo, mas receberam um espírito de filhos adotivos, de filhas adotivas, por meio do qual clamamos: “Abba! Papai!”>>
  (Carta aos Romanos 8,14-15)

2 – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Mateus 28,16-20

As Comunidades Eclesiais de Base, desde o Intereclesial de Trindade – GO (1986), nos têm ajudado a encarar a Santíssima Trindade com um novo olhar: mais que um “mistério” incompreensível, uma revelação sensacional “A Santíssima Trindade é a melhor Comunidade”, a mais perfeita, a Comunidade referencial!

Ser cristão, ser cristã é, essencialmente, em sintonia com Cristo, encarar a Deus, não tanto como o Infinito, o Absoluto, o Eterno, mas como o Encontro mais perfeito de Pessoas, autônomas e livres, que se entendem, se amam e se querem a ponto de compartilharem o mesmo ser, a mesma vida sem fim: o Pai e o Filho, na amorosidade do Espírito Santo, um só Ser Divino, um só Deus!

E o melhor é saber que estas Três Pessoas se chegam para junto de nós e nos convidam a participar da sua intimidade, da sua amorosa convivência: Batizar-se em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo é afundar-se nessa experiência de amor e comunhão. E isso é maravilhoso!

Em seguida, a partir dessa experiência, sentirmo-nos pessoas enviadas por Jesus para juntar a humanidade dispersa ou esfacelada, em todos os ambientes onde convivemos com outras pessoas.  Buscarmos permanentemente o diálogo, a comunhão, na construção do Bem Comum. Cultivarmos o prazer do encontro, o gosto da participação. Assumirmos o compromisso solidário com os segmentos mais precisados, oprimidos, excluídos, bebendo na fonte mais profunda:  a comunhão das Três Pessoas Divinas, sonhando com um mundo de paz.

Eis aí a essência da nossa experiência litúrgica, existencial e celebrativa. Eis o que precisa ser nossa vida, todo dia, e nosso canto expressar, na celebração de todo domingo.

E como essa experiência é atual, num tempo de tanto desemprego e fome, de tanto ódio e violência, de tanta irresponsabilidade com a vida do povo num tempo de pandemia, de matança em massa da população! E o que temos pela frente é absurdamente ameaçador: o avanço da onda privatista com a venda de empresas como a ELETROBRÁS…  o desmonte do Serviço Público por uma aberrante Reforma Administrativa… uma proposta de Reforma Tributária que só agrava a injustiça imposta à maioria da população… Que o Mistério da Divina Comunhão nos motive à indignação e à luta por um mundo justo e solidário, onde as pessoas se olhem como irmãos(ãs)!

 

 

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Vídeos enviados pelo autor.    

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]