Dina era uma adolescente dedicada. Tímida. E submissa. Mas gostava de detalhes. Consertar o quadro na parede, colocar em ordem os sapatos que o irmão largava pelo quarto, limpar o notebook da irmã, arrumar a cama do tio no quarto ao lado.
Era também disponível e por isso, explorável. Estava sempre pronta a dizer sim. Não sabia porquê. Achava que era medo, mas não sabia de quê.
Um dia o tio a pegou na porta da escola. Nunca tinha feito isso. Dina estranhou. Mas era submissa. Obediente. E disponível. Entrou no carro, encolhida como um bichinho. O tio mal a olhou enquanto dava a partida no carro e seguia por uma rua desconhecida.
Chegou em casa ainda mais encolhida. Foi direto para o banheiro e tirou a roupa. Ficou olhando a calcinha com aquelas gritantes manchas vermelhas. Alguma coisa nela doía muito. E não vinha apenas do corpo. Ardia no peito e ardia os olhos. Ela intuiu: agora estava presa numa teia. Como um mosquitinho que não podia mais voar.
Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Nesse ano, 2020, publicou seu primeiro livro de contos – O Insuspeitável perigo do instante-beijo e outros contos –