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Em Carpina quando era diretor

Mamãe! Eu gostaria tanto que esse padre fosse o meu pai!

Eu celebrava, na Igreja Matriz a missa de sábado à noite, que era uma missa de público numeroso. Dispensava a procissão de entrada e me paramentava no próprio altar diante do povo. Eu gostava de fazer assim. Também era somente túnica e estola; nunca usei casula; considerava algo medieval e anacrônico. Chegava mais cedo para conversar com o povo; cedo também chegavam duas crianças, irmãs de 8 e 9 anos aproximadamente: eram Carla e Andréa. Quando me viam corriam e faziam a maior festa. No momento do abraço da paz corriam para o altar, me cumprimentavam, abraçavam e beijavam; no final da celebração após depositar os paramentos sobre o altar, cada uma pegava em uma das mãos e saíamos desfilando pela nave central até o fim da Igreja, onde estava a mãe delas. O organista da celebração era sempre o Pe. Mário Daorizzi. Certo dia após a missa já me encontrava no meio da nave central com as meninas quando escutei um barulho feio vindo do órgão; suspeitei que fosse Pe. Mário caindo. Puxei minhas mãos das mãos das meninas e corri em direção ao Pe. Mário e as meninas correram para onde estava a mãe. De lá onde estava auxiliando Pe. Mário escutei a mãe das meninas censurar em voz alta: – Não fale isso! Não diga uma coisa dessa! Fiquei curioso para saber o que a mãe estava falando para as filhas. Quando cheguei junto da mãe ela explicou: -Veja o que essas meninas estão dizendo: Mamãe! Eu gostaria tanto que esse padre fosse o meu pai! Eu confesso que fiquei sem saber o que dizer; fiquei calado diante da inocência e ingenuidade das crianças.

Obs: O autor é Mestre em Educação pela Université du Québec à Hull (Canadá), professor da Unicap e da Fafire e  presidente da Comissão de Pastoral para a Educação da Arquidiocese de Olinda e Recife.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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