[email protected]
dirceubeninca.wordpress.com

Para alguns, as perguntas acima podem parecer óbvias demais. Para outros talvez sejam inconvenientes. Outros ainda podem achá-las extremamente complexas e perturbadoras. Para os incrédulos, quiçá sejam irrelevantes. Mas, afinal, por que Jesus morreu? Que Ele, o nazareno, nascido em Belém, tenha morrido é fato histórico. Igualmente, é fato histórico que tenha sido crucificado e não morrido de morte natural. Sua morte foi produzida da forma mais brutal, utilizada pelos romanos para banir bandidos, indivíduos perigosos, desordeiros, malfeitores.

Custa-nos entender que nos derradeiros momentos da vida de Jesus, a multidão dos seus seguidores sumiu. O desaparecimento deu-se pelo medo, decepção, descrença ou mudança de posição. Muitos que o seguiam, manipulados e atiçados pelos chefes dos sacerdotes e anciãos, de repente, passaram a gritar ‘crucifica-o e soltem o bandido Barrabás’ (Mt 27, 21-22). Isso também é fato histórico, tanto quanto o foi a permanência fiel até o final de algumas mulheres e bem poucos homens.

Mas, a dupla pergunta posta no título desse texto nos leva a pensar para além dos fatos históricos, materializados no tempo e no espaço. Coloca-nos a necessidade de interpretá-los. Enquanto o fato histórico é dado, podendo ter mais ou menos detalhes de acordo com as fontes, as interpretações do fato podem ser múltiplas, dissonantes e até opostas. Ocorre que as interpretações dos fatos, e desse em particular, incluem elementos culturais, espirituais, antropológicos, psicológicos, etc.

Sobre a leitura acerca da morte de Jesus há de se ter alguns cuidados. Um deles é o de não espiritualizar o fato, desconsiderando a sua historicidade ou, por outro lado, não restringi-lo a um mero fato histórico. É igualmente importante evitar leituras fatalistas dos fatos históricos. A afirmação de que ‘a morte de Jesus foi vontade de Deus’ poderá representar uma interpretação determinista na qual Deus configuraria uma vontade torpe a ponto de desejar a morte cruel de seu Filho.

Daí que a forma de interpretar os fatos pode mudar totalmente o sentido da história. Parece mais adequado afirmar, portanto, que Jesus foi assassinado (na cruz) em razão de fazer a vontade de Deus que era anunciar o seu Reino baseado no amor fraterno, na justiça para todos e na solidariedade universal. Em decorrência de levar essa causa até as últimas consequências, acabou por ser crucificado.

Na interpretação dos fatos, é fundamental entender que Jesus foi condenado e morto por um processo com três motivos: um político, outro religioso e mais um econômico. O político por que foi assumindo a liderança de uma grande multidão que o quis transformá-lo em rei, o que confrontou com os poderes constituídos. O religioso, porque se disse Filho de Deus, retirando essa prerrogativa da qual o imperador se achava investido. O econômico porque pregou o tempo todo o amor aos pobres, a fraternidade, a justiça social, a distribuição do pão e das riquezas.

Pelos motivos citados, os donos do poder e representantes da lei o reprovaram por inteiro. Porém, a leitura da morte de Jesus levando em consideração essa tríplice motivação não exclui, não diminui e nem substitui a interpretação teológica, religiosa e espiritual do fato histórico. Antes ao contrário, lhe dá um sentido mais abrangente e significativo que, neste caso, é a razão da fé que se prolonga em todos os cristãos.

E para quem Jesus ressuscitou? Enche-se de significado aos que crêem afirmar que Ele morreu e ressuscitou para nos salvar. Para redimir a humanidade de todos os pecados. Equivale dizer que seu gesto é a demonstração mais cabal do amor-doação. E que emerge daí o exemplo de que o amor levado às últimas consequências é o caminho para a transformação completa da vida, que se torna eterna. Feliz Páscoa aos que na ressurreição crêem e a todos os outros também!

Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]