Eu aderi à fase do “fica quem quiser, vai com Deus quem não.” Se precisar, inclusive abro a porta da saída.
Eu cresci me importando demais com o que os outros iriam pensar de mim. Sempre me policiava ao falar, ao agir, prestando atenção em quem estava em volta de mim, em suas reações, olhares, sinais. Tinha medo de ser mal entendido, mal interpretado, de ser excluído.
Tudo bem que, na fase da adolescência, temos uma necessidade maior de sermos aceitos pelo grupo, a ponto de fazer péssimas escolhas, na tentativa de participar da turma descolada e popular. Não raro, deixamos até de lado quem nos ama como somos, para ficar correndo atrás de quem nem nos enxerga. Queremos ser amigos dos famosinhos.
Nessa busca pelo que não tem a ver com a gente, acabamos nos esquecendo de quem somos realmente. Porque, muitas vezes, aqueles a quem admiramos não têm nada a ver com nossa essência, com nossos sonhos, com as verdades que temos aqui dentro. Ou seja, para podermos nos afinar com eles, teremos que nos moldar ao que foge completamente de nosso estilo de vida.
E isso é muito doloroso, afinal, a jornada mais importante é a que ocorre dentro de nós, enquanto nos impomos e existimos como pessoa, tentando viver o que nosso coração pede. Em algum momento, teremos que acordar e ouvir as nossas próprias necessidades, porque é impossível ser feliz como um fantoche vazio que se preenche do que não é seu. O que vem de dentro tem muita força, é impossível deixar tudo isso adormecido, sem se machucar ou ferrar com o emocional.
Eu, felizmente, fui amadurecendo, embora não no tempo que eu queria, mas consegui me libertar das amarras que o julgamento alheio tenta nos imputar. Meu pai sempre me dizia que eu tinha que parar de ter medo de magoar as pessoas. Ele percebia que eu deixava de me impor porque, na verdade, eu me sentia incomodado se alguém não gostasse de mim.
E, aos poucos, eu consegui perceber que há um preço muito alto a ser pago, quando tentamos ser queridos por todo mundo. O preço de não se pertencer, de não se reconhecer em si mesmo. E isso ninguém merece. Dói construir o próprio caminho, porque a gente tem que magoar as pessoas, às vezes, para que possamos deixar claros os limites, o que pode ou não, o que aceitamos ou não. Nem todos concordarão, nem todos permanecerão.
Felizmente, eu já passei da fase de querer atenção, da fase de ligar para a opinião dos outros, da fase de ficar me explicando. Eu agora aderi à fase do “fica quem quiser, vai com Deus quem não.” Se precisar, inclusive abro a porta da saída.
Obs: O autor é graduado em Letras e Mestre em “História, Filosofia e Educação” pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica.
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