Djanira Silva 15 de março de 2021

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Dormi? Não sei. Se acordei também não, como não sei se tudo ao meu redor é sonho ou realidade. Se sonho quero acordar. Se realidade prefiro dormir. Brigo comigo mesma e ficamos de mal no espaço de uma manhã. Por algumas horas me dou ao luxo de não querer saber de mim, das minhas tristezas, dos meus desencantos. E assim, a solidão ocupa lentamente o seu lugar.
Areia quente, sol escaldante, um frio doido, loucura entre céus e terra. Deserto de brumas, que somente a dor pode explicar.
Nos murmúrios do vento espero respostas. Um soluço abre meu coração, vejo-me dividida, assusto-me com as diferenças. Já não tenho espaços vazios, há saudade por todos os lados. Saudade diversas, velhas, novas, tristes, alegres, lembradas esquecidas.
Acordei. Nem sei se dormi
As letras, os números, as palavras, o nada. Em cada coisa um significado, uma alegoria – muitas lembranças. Palavras com personalidade e sentido. Amarga lágrima embutida na canção.
Tento escrever sobre a ternura da vida, sonhos, brisas mornas e leves, o toque de um piano na madrugada.
Escrever e pensar sobre coisas breves efêmeras ou eternas como – o arrulhar das ondas, o passar do tempo, a enganação da vida. Encontrar as pegadas das sombras para que possa decifrar minhas idas sem volta na angústia das incertezas.
Custa-me pensar em mim. Só em mim. Não tenho respostas. Só indagações. Ao meu redor um campo de batalha. Sombras indefinidas, caminhos sem rota, distâncias sem fim. Se chegarei, não sei. Não sei porque, na verdade, nunca soube. Marcando as estradas, o vazio.
Apenas o nada e mais nada.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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