Rejane Menezes 15 de março de 2021

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“Essa canção não é mais que mais uma canção, quem dera fosse uma declaração de amor(…) Se me faltares, nem por isso eu morro, se é pra morrer, quero morrer contigo, Minha solidão se sente acompanhada, Por isso às vezes sei que necessito, Teu colo, teu colo, Eternamente teu colo (…) Se alguma vez me sinto derrotado, Eu abro mão do sol de cada dia, Rezando o credo que tu me ensinaste, Olho teu rosto e digo à ventania, Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda

Hoje era o dia dela, faria 93 anos. Não, ela não partiu porque já era o seu tempo. Sua cabeça funcionava ainda muito bem. Eu cuidava de seus pagamentos e todos os meses ela me lembrava, na data certa. Fazia suas contas na ponta do lápis. E era o meu porto seguro. E quando ela foi embora, eu nem estava aqui para me despedir.

Por muito tempo peguei no telefone para perguntar alguma coisa a ela ou comentar sobre alguma graça das netas, minhas, bisnetas dela. E me dava conta que ela não estava mais aqui. Ela era apaixonada pelas netas e bisnetas.

Ela foi uma guerreira, enfrentava as lutas de cabeça erguida, não corria da luta. Partiu suavemente, silenciosamente, no dia dedicado aos trabalhadores. Ela que deu muito duro na vida, não poderia partir em outra data, se não a dos bravos guerreiros que travam batalhas pelo pão de cada dia.

Não queria celebrar os 90 anos. Não gostava de trabalho. Mas eu e as meninas não espeitamos essa vontade. Uma vida como a dela, tinha que ser celebrada e comemorada.

Rossana chegou de surpresa para celebrar com ela. Preparamos uma celebração do Ágape, no pilotis do prédio em que morava, conduzida por meu querido amigo, de todas as horas, Marcelo Barros. Foi uma celebração inesquecível. Simples como ela gostava, com os amigos mais próximos, cercado de amor e carinho. Eu, Sérgio, Carol e Rossana cantamos, as músicas que ela gostava.

Foi um dia complicado, o trânsito estava difícil, mas quem pôde, chegou e prestou, com a gente, aquela que seria a nossa última homenagem a ela.

Menos de um mês depois viajei para a Noruega, para receber a minha segunda neta, Isabella, a bisnetinha que ela não chegou a conhecer pessoalmente, só pelo skype.

Já pertinho de ir embora, no skype , ela agradeceu a Rossana, a mim e a Carol termos insistido em comemorar o os 90 anos dela. Que gostou muito e que teria sentido muito, se a gente tivesse atendido a ela e desistido de fazer a celebração. Essa é a última lembrança que guardo dela, emocionada e feliz, por ter comemorado seus 90 anos. E essa alegria, de nós três não termos desistido, ela aquece o meu coração, quando a saudade aperta. Como hoje.

Hoje, ao lembrar de seu nascimento, penso em agradecimento. Agradecimento à vida por ter me dado Yoyo como mãe. Ela me ensinou a ser uma pessoa melhor, me ensinou o valor do serviço e a importância de sermos disponível sempre, colocando para os outros o que sabemos, o que temos, o que somos.

Sua generosidade me ensinou a partilhar e a sua bondade me ensinou a cultivar a paciência, coisa que estava em falta no dia em que nasci.

Foi minha grande incentivadora sempre que eu queria fazer alguma coisa nova, como, por exemplo, aprender a tocar violão, aos dez anos de idade e fazer vestibular de jornalismo, aos 17, em um tempo que ser jornalista não era uma profissão bem vista. Afinal eram os anos de chumbo.

Agradeço a vida por me ter dado ela por mãe e agradeço a ela, por ter sido a minha mãe, por ter me acolhido, me educado e me amado. Agradeço por sua paciência com minhas birras, por seus nãos nos momentos certos e por seus sins.

A saudade hoje está doendo muito, necessitando de seu colo, de seus conselhos, de sua sabedoria. Quero correr e gritar à ventania “te amo, eternamente, Yolanda”. 10.02.21

Obs: A autora é jornalista,  e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
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