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Não existe criança que não aprende ou não quer aprender; há crianças que não aprenderam a estabelecer laços de afeto com a família, professores, escola e, consequentemente, com o saber.

Ainda bem que a primeira reunião de retorno ao planejamento escolar na minha escola tratou de coisas do coração.

A educação não é a tecnologia; a tecnologia é apenas mais um meio, um instrumento, pelo qual é possível aprender e educar.

(Nada do que se ensina tem sentido se não tocar o coração das pessoas.)

Em tempos de pandemia, quando as possibilidades de interação entre professores e estudantes estão mais restritas, vale lembrar que aprendizagens significativas não acontecem automaticamente com simples acesso às tecnologias. As aprendizagens significativas são viabilizadas a partir de relações qualificadas, comprometidas e envolventes entre os sujeitos da educação: os estudantes e os professores. Aliás, no ensino remoto, ficam mais difíceis e complexas as vivências de afetividade, por isso da necessidade de pensarmos sobre.

Abordar a inteligência emocional como a principal estratégia, associada a um bom conteúdo, pode evitar o abandono das crianças, adolescentes e jovens da escola. Precisamos de um olhar mais atento às necessidades afetivas do ser humano, que em muito se perdeu sem o contato presencial. Como trabalhar de forma mais ampla e eficaz esses aspectos num convívio semipresencial?

Mais do que nunca, escola e família devem estar juntas para minimizar as perdas e prejuízos das crianças e adolescentes, que são os mais frágeis deste processo.

Acreditamos que o amor e o afeto são componentes indispensáveis para aprendizagens significativas. Queremos aprendizados que tenham valor e sentido de vida. É verdade que também aprendemos na dor, no sofrimento e na desgraça, quando são inevitáveis. Mas, na escola e a partir dela, temos de construir um espaço para trocas e aprendizagens, através de relações que geram prazer e o desejo de estar junto (mesmo que distantes, conectados com o coração).

filósofo Sérgio Cortella responde: qual é a relação entre afetividade, vínculo e aprendizagem? Assista e reflita!

psicóloga Ana Manoela Detoni afirma que “a aprendizagem de uma criança acontece quando há desejo de aprender. Quando a família não vê o processo de aprendizagem como algo importante e a escola não faz investimento nesse aluno, fica difícil despertar nas crianças o desejo pelo saber, pois se todos desistiram dela porque ela não desistiria”? Leia mais!

Detoni continua:

“Não existe criança que não aprende ou não quer aprender, mas sim crianças que não aprenderam a estabelecer laços de afeto com a família, professores, escola e, consequentemente, com o saber. Por mais precários que eles sejam em casa, a escola pode propiciar uma relação saudável do aluno com a sociedade, na medida em que o trata como um indivíduo e o enxerga como um ser cheio de possibilidades.

A psicóloga Ana Manoela Detoni conclui: “a afetividade é a via de comunicação mais eficaz entre professor aluno, possibilitando o reconhecimento da capacidade intelectual do educando. Se dizemos que a educação hoje está caótica e difícil, temos o dever de pensar nas causas que a levaram a esta situação, fazendo uma reflexão acerca do comportamento dos pais e do corpo docente, para que possamos encontrar as causas e soluções para os problemas na escola hoje”.

Conheça também este importante vídeo onde o autor fundamenta a educação afetiva.

filósofa Rosângela Trajano, em entrevista exclusiva ao nosso site, perguntada sobre a influência do afeto e da inteligência emocional na aprendizagem das crianças e adolescentes, assim se posicionou.

“Um professor só deveria ensinar se amasse verdadeiramente a sua profissão e os seus alunos. Sei que é difícil falar de amor nos tempos atuais, mas é necessário e muito. Quem ensina com amor transmite sabedoria para o resto da vida, deixa marcas na alma da criança. Vivemos épocas de ódio em que as pessoas não se preocupam mais umas com as outras; tememos sair das nossas casas, não acreditamos mais nas pessoas, não temos mais amigos verdadeiros. Passamos a confiar mais nas máquinas e estamos presos à tecnologia. Diante de tudo isso, o amor pede passagem para uma nova era. Um amor que cuide do outro, respeite e tenha proximidade do ser amante. Necessitamos falar mais de amor.

A inteligência emocional carece de efetivação nas salas de aulas, principalmente às crianças que são incompreendidas pelos adultos na maioria das suas emoções. Para citar um exemplo simples, uma criança birrenta nem sempre é assim por falta de educação, mas porque quer chamar a atenção de cuidados.

Já não damos atenção às nossas emoções e deixamos de lado os motivos pelos quais estamos crescendo ansiosos e depressivos. Para evitar que esses males se tornem um problema mais grave salvemos as nossas crianças trabalhando as suas emoções. As crianças também têm medo do escuro, de palhaços, de perderem as pessoas que amam e tantos outros medos; logo, precisam saber lidar com esses medos.

Aos Professores também cabe ensinar a criança a lidar com as suas emoções de forma que não sofra tanto, porque a infância é uma fase da vida onde há uma espécie de sofrimento significativo pela falta de respostas às dúvidas não respondidas e não aceitas pelos adultos.

Toda escola deveria adotar a disciplina de inteligência emocional, pois assim as crianças poderiam sair das suas casas na certeza de que encontrariam amor na escola. Tenho dedicado as minhas pesquisas na área da inteligência emocional há cerca de cinco anos, mas só agora venho escrevendo material didático para crianças e disponibilizado em meu site e redes sociais”.

Leia entrevista completa!

O papel da família na educação

Sueli Ghelen Frosida Escola de Pais do Brasil, reflete, em vídeo exclusivo ao site, sobre como se tornou mais sofisticado o papel dos pais e das mães na educação. Ela também afirma que pais e mães sempre são educadores e que devem ser parceiros da escola para a humanização dos filhos. Os filhos são educados pela linguagem, pelas emoções, pelo respeito e pelos exemplos. Neste vídeo, já visto por aproximadamente 20 mil pessoas, Sueli esclarece o quanto a família é importante na formação educacional das crianças e adolescentes. Assista.

Cláudio Ely, professor de filosofia e Ensino Religioso e Orientador Educacional pondera aos professores e pais sobre o tipo de ser humano que queremos formar (ou estimular a ser) no ambiente educacional:

“No processo educacional humano, o que significa empenhar a inteligência? Podemos seguir os ditames instintivos da natureza e promover a justiça do mais forte, transformando, assim, a convivência social em campo de batalha e gerando o acúmulo de violência (produção de morte) em todas as áreas da atividade humana.

Ao assumirmos a postura do amor, nos descentralizamos do nosso egoísmo e mergulhamos na transcendência que afeta a todos, possibilitando o bem comum. A pergunta na definição do projeto educacional se impõe: que ser humano queremos ajudar a formar e como afetar a todos (muitos) para que se incluam no projeto proposto?

O afeto a ser veiculado pelo testemunho carrega em si os valores universais do respeito à alteridade, da solidariedade aos mais fracos e necessitados, da gratuidade no serviço ao bem comum, do cuidado do patrimônio social, do empenho pessoal pela justiça social.

Uma palavra aos pais de alunos: o testemunho, ou seja, o exemplo, é a maior dádiva para a saúde integral dos filhos, mas também pode se constituir em força desintegradora do caráter e da personalidade deles (dos filhos)”.

Todos sabemos sobre a importância da parceria entre escola e família se desejarmos uma educação de qualidade para que crianças, adolescentes e jovens assumam progressivamente o protagonismo de sua aprendizagem através da aquisição de autonomia no aprender a conhecer, no aprender a fazer, no aprender a conviver e no aprender a ser. (4 pilares da UNESCO). Escola e família precisam estar conectados e conscientes da função de cada um para que a educação de qualidade aconteça.

Conheça a experiência desta Escola da rede municipal de Passo Fundo a partir de uma atividade denominada Festa da Família, no ano de 2019, na qual a diversidade das famílias foi celebrada e respeitada.

Afetividade na educação em tempos de ensino híbrido

Na opinião de especialistas, na medida em que se consolidar o ensino híbrido, os estudantes serão mais protagonistas de sua aprendizagem, terão contato com diferentes fontes de conhecimento, se envolverão com atividades extra-classe e tudo isso é bem-vindo para uma formação mais humana.

Até aí, tudo bem. Mas como fortalecer e construir os laços de afetividade e o conhecimento da realidade e das necessidades dos estudantes sem a sua presença física ou com menor presença? No vídeo a seguir, a autora apresenta pistas para que professores e professoras possam oferecer condições mais favoráveis aos estudantes, despertar a motivação, o empenho e o interesse na sua construção de conhecimento a partir do ensino híbrido. Veja o vídeo!

pesquisadora Patrícia Ferreira Campos, em artigo “O ensino híbrido e a afetividade no processo de aprendizagem”, apresenta pistas:

“O aluno permanecerá motivado a partir do momento que o conteúdo lhe desperte o gosto e o prazer. As experiências agradáveis vivenciadas numa sala de aula nunca serão esquecidas, a memória consolida os momentos marcantes. A aprendizagem é facilitada quando há envolvimento das partes, ou seja, as relações devem ser acolhedoras, respeitosas com o objetivo de despertar no aluno a confiança e a superação para os desafios. O papel do professor/instrutor é de extrema relevância para a permanência do aluno, especialmente porque tem a função de encantar com o conteúdo apresentado”.

Os aprendizes devem ter novas habilidades para serem capazes de estudar em ambientes informatizados de aprendizagem. Esperam-se novas atitudes e são propostas novas atividades nos ambientes de aprendizagens virtuais, como aprender de modo autônomo, desenvolver estratégias de estudo adequadas, e utilizar e explorar novos recursos de comunicação. Esperam-se ainda insights pedagógicos do aprendiz virtual, confiança no uso da tecnologia e motivação extra para os estudos”. Leia mais!

Como podemos observar, embora haja o amplo reconhecimento de que a afetividade seja um componente importante nas aprendizagens também no mundo virtual e na educação de forma remota/híbrida, há poucas pistas de como fazer com que ela seja uma constante, tanto na abordagem dos conteúdos quanto na relação dos sujeitos aprendentes: estudantes e professores.

Para que aprendizagens significativas ocorram, parece ser importante continuarmos perseguindo a ideia da importância da afetividade na aprendizagem. São os novos desafios que se impõem à educação, em tempos em que pandemia e isolamento social desafiam também as famílias, os sistemas escolares, os estudantes, os professores e as professoras, em todos os aspectos, também naqueles de aprendizagem.

Aprendizagens significativas são as que realmente importam!

Aprendizagem Significativa: do que estamos falando? Assista e descubra!

Sugestões de leitura: Gládis Pedersen, pedagoga e escritora, Convidada do site, editou, em 3 livros, interessantes reflexões sobre habilidades socioemocionais e sobre os desafios de trabalhar com adolescentes e jovens: “Educação, a Arte de Manejar o Caráter”, “Cartilha para os Pais” e “A Vida por um Fio”, sobre a tendência atual de suicídio na infância e juventude. Conheça estas e outras publicações no site.
27.02.2021

Obs: O autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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