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No parque- 3

E hoje teve Tai Chi Chuan. Sim, comecei a fazer neste período pandêmico, onde atingi o auge da minha ansiedade. Sinceramente, logo no começo do isolamento eu achei que ia pirar. Foram tantos dias de extrema insegurança que eu, que já sou ansiosa, comecei a me sentir na beira de um abismo.

Então voltei a caminhar e achei o Tai Chi.

Confesso que movimentos lentos não são meu forte, mas cedi às mudanças que percebi ocorrerem, principalmente na respiração e controle da ansiedade. Após a aula eu faço minha caminhada, mas às vezes caminho antes.

Muitas pessoas que frequentam o parque, e que passei a chamar de “meus personagens”,
são conhecidas, e já sei até sobre seus comportamentos.

Tem um grupo de senhores que caminham sempre, então passo algumas vezes por eles. Confesso que me impressionam os assuntos tão imaturos e repetitivos, tanto que acelero o passo para não ouvir a conversa (coisa que é inevitável). Engraçado que sempre esperei ouvir alguma coisa interessante daqueles vividos cabelos brancos, mas até hoje, nada.

Alguns estão mais gordos, outros percebi que sumiram, inclusive um que me chamava de “minha vereadora”. No período em que estamos vivendo, qualquer um que some, achamos que foi levado pela Covid-19. Portanto, amigos, de vez em quando deem um “olá”, só para saber se estão bem.

Mas continuando, um dos senhores me chamou a atenção quando o vi sentado. A barriga ficou muito maior do que eu possa lembrar. Caída por cima da larga bermuda branca. Perdoem, mas me fez lembrar uma piada de Zé Lezin, onde ele fala da barriga e diz que a esposa chama de árvore de cemitério, que só serve para fazer sombra ao morto.

Desculpem a brincadeira, mas é que fica mais divertido caminhar observando, pensando, imaginando. Então tudo o que acontece ao redor acaba sendo uma distração que faz com que o caminhar não seja tão solitário. E nossa mente é este laboratório louco que sai conectando tudo.

Tem uma prima que acha tão sem graça caminhar por lá que veio me reclamar que sai encontrando o povo e que ficam perguntando quantas voltas ela deu. “Desse quantas?”. “Ah, que saco, interessa lá quantas já dei”. E diz que fica tendo que cumprimentar toda vez que cruza com alguém que vem no sentido contrário. É, acho que ela nunca mais foi.

Mas eu gosto. Gosto bem mais na praia, claro, sigo sem sentir, molhando os pés na água, mas, por aqui, é o que tem pra hoje.

Bem pessoal, por hoje é só, vou embora cuidar da vida porque não tá fácil pra ninguém.

Bom dia.

Ah! Hoje é vinte e um de outubro de 2020, faltam 71 dias para acabar o ano (que ano?).

Década de 2020, século XXI, terceiro milênio.

Só pra lembrar mesmo.

Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/

Imagem da autora -Parque da Jaqueira – Recife

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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