Ina Melo 1 de fevereiro de 2021

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O ano e o dia estão perdidos em algum lugar do passado! O amor ou a ilusão que ele proporciona, pode fazer a felicidade e o sonhos partícipes de uma história que nem o tempo é capaz de apagar. Num dia assim de sol e neve fui visitar Lauro na Geriatria da pequena cidade em que morava. Levei essa foto dos Jardins de Luxemburgo. Ao ver o brilho expresso no seu olhar, senti que iria ouvir mais uma história das suas aventuras. Com as taças de “Bordeaux Rouge” erguidas brindamos à vida e aos sonhos. Segurei suas mãos mornas entre as minhas e pedi que falasse dos seus amores invernais. Com os olhos mergulhados no infinito, aos poucos ele foi levantando o véu da memória e começou a descrever a mulher que conheceu num fim de tarde de um perdido dia de um inverno parisiense, naquele mesmo jardim! Então ele falou. De repente, uma nevasca começou a cair e as poucas pessoas que ali estavam apressaram os passos para se abrigarem. Foi quando alguém pediu. Ajude-me por favor, não sei caminhar pela neve! A pequena mão enluvada estava firme agarrada no seu braço. Ele viu apenas um par de olhos azuis e uma face branca e corada. Um capuz preto, a mãe com uma borda de pele cobria quase todo o delicado rosto da mulher. O corpo estava envolto até aos pés por uma capa. Então, com os seus longos braços ele a envolveu e assim chegaram ao Bistrô! Estavam cobertos por uma leve camada de neve. Entram e ao tirar o manto lhe foi revelado uma elegante mulher usando um duas peças clássico e botas até aos joelhos. Os cabelos presos num elegante coque, deixavam descobertas as pequenas orelhas! A idade era indefinida. Aí ele ri um pouco e diz: eu estava beirando os 60 anos, ainda assim achei- a muito jovem para mim! Sentamos e ao vê-la despir as luvas com leveza, pus-me a imagina-la tirando toda a roupa. As mãos pequenas e frágeis, com unhas pintadas de vermelho forte a mesma cor dos lábios, a deixavam sensual. Coloquei as minhas mãos sobre as dela e uma forte corrente de desejo nos envolveu. Falo no plural, pois senti o seu olhar firme a mergulhar dentro dos meus como uma seta incendiária. Foi naquele instante que nos apaixonamos! Sim. Tenho certeza! Lá fora a neve caia forte! Perdi as contas dos conhaques que bebemos, até chegar a hora de coroar o encontro com um vinho da mesma cor rubra dos seus lábios sensuais! Foi então que aconteceu o primeiro beijo. Aos poucos o Café se esvaziou e nós dois esquecidos do mundo lá fora, conversávamos o que, garanto que não me lembro, mas o toque diz muito mais do que a voz e eu estava louco para penetrar os mistérios daquela mulher! Pedi um táxi e ao envolvê-la na capa, pude sentir o seu corpo quente com a mesma ânsia do meu! Levei-a até o Hotel e ao descer do táxi ela me abraçou e perguntou: Queres ficar comigo para sempre? Admirado, pois nunca ninguém me propusera tal coisa, emudeci seguindo- a silenciosamente! O tempo para nós passou com a rapidez dos pensamentos. Ela marcou a minha alma como uma tatuagem marca a pele! Passamos todo o período em que durou as minhas conferências juntos, colados um no outro, como se as nossas almas não quisessem nunca mais se separar do corpo! Naquele tempo, por sorte, ambos estávamos livres como os pássaros! A cidade linda e gelada foi o cenário para o início de uma paixão que durará enquanto vivermos!Admirada perguntei e essa diva, por onde anda? Ele muito sério, levantou-se e me levou para a varanda onde uma quase velha senhora, regava as plantas! Num discreto pigarro ele se aproximou e disse. Minha querida, venha conhecer a minha amiga que está trabalhando no meu livro de memórias! As faces deles, com as marcas do tempo, irradiavam um frescor que só a felicidade pode proporcionar. Agora entendo porque escolheram passar os seus dias numa casa onde não precisavam de obrigações um com o outro e cada um vivia a sua privacidade ao seu modo! Ele, um velho lobo solitário, cultuava livros e amigos e ela seguia os mesmos passos, mas sem um, ser o dono do outro! Amavam-se intensamente, disso não tive dúvidas! Abracei-os carinhosamente, pensando em quantas formas o amor pode se apresentar. Ina Melo. 01/021.

Obs: Imagem  free da pixabay enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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