No tempo de Jesus havia um forte movimento escatológico. Jesus aderiu a este movimento, colocando-o a serviço da urgência da mensagem que ele tinha a transmitir.
Causa surpresa a insistência dos apelos escatológicos de Jesus, ao longo dos seus discursos. Fez até questão de garantir aos seus ouvintes, que não morreriam sem terem visto o retorno do Filho do homem.
“Em verdade vos digo, alguns dos que estão aqui não provarão a morte sem terem visto o Filho do Homem vindo com o seu Reino” (Mt 16, 28.)
Teria Jesus se enganado, ou ele estava usando a escatologia para transmitir outras mensagens?
Os solenes apelos que os Evangelhos registram, no início da pregação de Jesus, tinham claramente o caráter escatológico: “O tempo se completou, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos, e crede no Evangelho” (Mc 1, 15).
Esta adesão ao estilo escatológico tem sua razão de ser. O sentimento de que o fim está próximo, é apelo que chama a atenção, e desperta para realidades importantes.
Na verdade, através dos esquemas escatológicos, Jesus usava o “iminente”, para expressar o “eminente”.
O iminente é o que está próximo a acontecer.
O eminente é o que tem importância, tem consistência, tem valor.
O iminente pode ser negativo ou positivo. Pode estar iminente uma desgraça, como pode também estar iminente a solução de um problema;
Ao passo que o eminente está sempre ligado a realidades positivas.
Retornando aos Evangelhos, percebemos que Jesus, de fato, se valeu da dimensão escatológica, muito em voga naquela época, para colocá-la a serviço da eminente mensagem que ele tinha a transmitir, traduzida nas bem-aventuranças, e na alegre certeza da misericórdia do Pai, que estava para se revelar de maneira especial no mistério pascal de Jesus.
Assim entendemos melhor as ênfases escatológicas de Jesus. Sua própria maneira de viver era uma parábola, a serviço da Boa Nova que tinha a anunciar.
Hoje a escatologia está voltando. Muitos propagam, convictos, que está iminente o colapso do sistema vital em nosso planeta. E que só medidas radicais poderiam reverter o iminente cataclisma.
O exemplo dos Evangelhos pode ser muito útil, e bem razoável. A ecologia nos apresenta hoje a evidente necessidade do cuidado com a natureza, alertando-nos para a finitude dos seus recursos, que já estão no limite do seu equilíbrio. Este o alerta.
Mas como no tempo de Jesus, a sabedoria nos ensina a entender estes apelos como uma parábola, que traz uma importante mensagem, que precisa ser decifrada com bom senso.
Pois se em nome das preocupações ecológicas inviabilizarmos o sistema agrícola atual, então sim aceleraríamos a catástrofe de dimensões globais que daí resultaria, com a fome assolando bilhões de pessoas.
E´ o cuidado, por exemplo, que precisamos ter com o Código Florestal. Sobretudo para evitar que alguns de seus artigos equivocados venham desestimular, de vez, os pequenos agricultores de nosso país, responsáveis por mais da metade dos alimentos colocados à mesa dos brasileiros.
A escatologia vem bem até nos Evangelhos. Contanto que seja interpretada com bom senso e responsabilidade.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.