Todos os dias elas se encontravam ali, no centro da sala,na mesma mesa. A vida escrita nos rostos, mãos incertas, olhos passivos, iguais na diversidade.
Todos os dias as lembranças comiam no mesmo prato. E lágrimas furtivas raleavam o feijão com farinha. O barulho das colheres coloria as pausas da memória. E as histórias ganhavam nova aquarela.
Um dia, uma delas se foi. A cadeira ficou vazia. As outras duas fingiram não perceber. Continuaram falando com a ausente. E até viam as lágrimas que ela escondia. E ouviam o barulho de sua colher cobrindo o choro delas.
Foi assim durante dias. Até que a cadeira foi novamente ocupada. Os olhos das duas acordaram. E neles a tácita certeza. Haveria sempre outras histórias ocupando cadeiras vazias.
Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Nesse ano, 2020, publicou seu primeiro livro de contos – O Insuspeitável perigo do instante-beijo e outros contos –