Um casal deixa sua casa silenciosamente
dirigindo-se para a cidade de Belém.
Ela grávida de nove meses carrega no seio
a esperança de ver realizado o anúncio do anjo Gabriel.
Maria decidira viver e fazer a vontade de Deus:
ser a mãe do Salvador da humanidade.
Espera encontrar uma pousada naquela cidade agitada
pois a criança pode nascer a qualquer momento.
Um casal corre às pressas
descendo as ladeiras e escadarias do morro,
apesar da chuva e do frio daquela noite,
cruzando estreitas ruas alagadas
porque a hora do nascimento se preanuncia.
Tentam chegar a qualquer hospital
para garantir o nascimento (vida) do primeiro filho.
A cidade está toda enfeitada de luzes e presépios.
Uma doença maldita superlotou todos os hospitais
de luto e de morte levando muita gente
de todas as idades e classes sociais.
Naquela noite se misturam em todas as famílias
dor, festa, desespero, alegria, fome, banquetes.
O casebre abandonado do final da rua,
com o seu vazio acolhedor,
entoando um canto silencioso profundo,
aconchega aquele anônimo casal
na noite de Natal para ouvir o choro
daquele menino ao nascer:
ele não é o filho de Deus,
não é descendente de Davi,
chega sem nome ou status social,
não será noticiado em nenhuma rede social.
É apenas um ser humano
gritando com todas as suas forças e fragilidade
um lugar para nascer e viver
no nosso divino-humano-cósmico-mundo.
(27.12.2020 – 23:20h – Caxias/MA)
Obs: Imagem do autor