Padre Beto 1 de janeiro de 2021

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O que pensar de um filme que mostra as histórias a princípio desconexas de uma jovem vendedora de flor de lótus, um professor leproso, um condutor de táxi-bicicleta, uma prostituta, um americano perdido e um garoto de rua?
Essas são as peças do filme “Três Estações”, de Tony Bui. O filme mostra um país dividido entre a sua ideologia socialista e a premente necessidade de aderir à globalização. Perdidos no meio deste processo, os seres humanos que vivem no degrau inferior da escala social são os que mais sofrem na sua própria busca da identidade e do lugar ao sol. O trabalho do diretor e roteirista Tony Bui, um vietnamita criado nos Estados Unidos, é extraordinário ao juntar elementos como pobreza, prostituição, menor abandonado e doenças incuráveis e compor um poema que nos provoca atenção e compromisso.

Em Lc 12, 32-48 encontramos um texto construído em parábolas. Portanto, não podemos ficar nas aparências deste estilo literário, mas entrar em sua essência. Sem dúvida alguma, a conclusão de sua mensagem está no versículo 48: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito será exigido”. Mas, esta conclusão só é compreendida a partir do momento que entendemos os dois temas principais das parábolas contadas por Jesus. O primeiro tema é a vigilância. O ser cristão é um ser vigilante, atento a todas as situações que o envolve. Esta atenção não é aquela que normalmente possuímos e que possui uma grande dose de sadismo. Nós, muitas vezes, entramos na intimidade dos outros para saber a desgraça ou o mal que aflige o outro. A vigilância cristã é acompanhada pela lucidez e pelo respeito. O cristão se interessa pelas situações a sua volta e procura compreendê-las perguntando sempre “por que”, “como” e “para que”. O cristão possui uma vigilância crítica que o faz ser alguém desalienado e, portanto, pensante. Porém, a vigilância cristã possui um objetivo. Aqui se encontra o segundo tema das parábolas: a responsabilidade. Se o cristão toma consciência de uma situação ele exige de si mesmo um compromisso perante ela, ele se sente responsável em fazer alguma coisa para que a situação seja
transformada para melhor. A palavra responsabilidade vem de “resposta”. Sentir-se responsável por algo é procurar dar a nossa resposta frente a este algo. O cristão é vigilante para saber o que acontece a sua volta e poderagir como um ser responsável e transformador. Por isso, o desfecho do discurso de Jesus. Se o cristão é bem informado, ou seja, se lhe é dado muito, muito lhe é exigido. O cristão vive em um caminho de transcendência, ou seja, de cada vez mais compromisso com o mundo a sua volta, justamente porque ele não é alienado, mas atento ao seu universo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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