[email protected]

No Parque – 2

Começo a semana então com todo o gás. Mesmo porque, acabei comendo o que não devia no final de semana (grande novidade essa sem-vergonhice).

Chego ao parque para a caminhada e me ocorre que hoje é dia do comerciário. Uau! Suspiro e me decido a enfrentar, mesmo sabendo que em breve o sossego acabará.

Já logo na entrada vejo a placa escrito caldo-de-cana. Nossa! Adoro. Penso que nunca mais tomei. Espero um pouco para que a moça sirva a uma cliente, só para confirmar minhas suspeitas de que vou ficar na vontade, pois a higiene é sempre duvidosa. Dito e feito. Ela pegou o dinheiro, passou um álcool safado, bem rápido, e pegou a cana. Desisti! Ponto para a Covid-19! Algumas coisas é melhor que a gente não veja.

Na segunda-feira a primeira volta(1km) é aquela coisa preguiçosa, arrastada. Observo que o rapaz que ensina a andar de bicicleta já chegou.

Fico imaginando porque algumas pessoas levam tanto tempo para aprenderem algo que a gente aprende no susto, bastando um empurrão de alguém e uma pedalada.

Claro, uma queda aqui, outra ali, mas nenhum trauma que marque ou justifique tantas aulas. Mas enfim, não quero questionar habilidades e tampouco menosprezar o ganha-pão do rapaz, apenas um pensamento aleatório.

Passo por uma senhorinha de vestido branco e xale azul no pescoço. Sua mão direita segura uma bengala, enquanto a esquerda, o braço da sua acompanhante, uma jovem de rabo de cavalo, calça de malha azul e camiseta branca. Parece mais uma personal (tenho visto várias com esse perfil acompanhando idosos). Conversam baixinho, mas ouço a senhora dizer, em tom alegre: ela disse que ia almoçar comigo hoje. Mandei fazer o bife que ela gosta. Fiquei pensando em quem seria. A filha, que talvez trabalhe no comércio e está de folga? A netinha que nunca mais esteve lá por conta da pandemia? Sei lá, sei que estava feliz.

Mais alguns passos e ultrapasso uma família. Uma menina de uns três anos, shortinho de jeans e blusa cor de rosa. Nas mãos, um ursinho de pelúcia (taí uma coisa que nunca sai de moda). A mãe parecia cansada e carregava a pequena mochila infantil, também rosa, no braço. Calça colada, blusa colada, marcando as gordurinhas (que sobraram da gravidez, provavelmente, e que jamais desapareceram), tudo azul-marinho. O tênis, rosa. Parece que o rosa quer marcar mesmo a feminilidade da família. Eu detesto rosa, por isso me chamou a atenção. O pai usava algo um pouco estranho. Uma meia tipo colegial, tênis preto, bermuda bege e camisa preta. Pensei no calor que vai sentir daqui a pouco. Mas, para compensar, colocou um chapéu de palha, desses menores. O figurino está um pouco esquisito. Mas o que eu tenho a ver com isso, não é mesmo?

Vou caminhar porque quem precisa perder peso sou eu.

Mas esse negócio de peso anda me perseguindo. Algumas mulheres estão muito gordas, bundas grandes e largas. Será a comilança no isolamento?

Vejo um casal vestido de branco, posando para fotos (muitas pessoas fazem isso no parque). Provavelmente noivos. Ela, alta, robusta (poupando o gorda por ser a noiva). Ele, bem menor do que ela, mas bem menor mesmo, e franzino. Parecia filho. Mas numa expressão de imensa felicidade incontida! Ali eu tenho certeza: muita areia para o pobre caminhãozinho.

Fico imaginando o que ele fará com aquilo tudo!

Mas gente, por hoje é só, preciso suar porque não tá fácil pra ninguém! E como dizia um senhor, velho amigo de caminhadas por essas bandas: beleza dá trabalho, mas moleza não dá beleza. Depois conto a história dele para vocês. Foi um desses personagens queridos do Parque da Jaqueira, mas já faleceu há alguns anos.

Ótima semana para vocês!
Bom feriado para os comerciários.

Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/

Imagem da autora 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]