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Entre os livros que mais me impressionaram na juventude, posso destacar a obra de David Hume. Foi lá que pela primeira vez tive contato com o que ficou conhecido como a questão ou o problema da Indução. Esse problema deixa a ciência em uma situação muito peculiar: a de ter de aceitar que, caso tire Deus da equação, tudo o que ela faz é com base em uma aposta irracional, a de que o futuro repetirá as leis do passado.

No nosso bate-papo de hoje, gostaria de falar sobre como a questão da Indução é absolutamente insolúvel (*) na visão de mundo ateísta e, ao contrário, é não apenas solucionada, como também prevista nas Escrituras Sagradas. Vejamos.

A questão que se apresenta é a seguinte: a repetição de fatos no passado não fornece nenhuma indicação cientificamente verificável de que esse mesmo fato se repetirá no futuro. Sim, a ciência para prever o que acontecerá no futuro, por mais simples e óbvia que pareça esta previsão, tem de se usar de um instrumento que muitos cientistas criticam: a fé. É pela fé que a ciência diz que as leis da natureza que funcionaram ontem e hoje funcionarão da mesma forma amanhã.

Acho que poderíamos resumir em uma pergunta este problema. Utilizaremos um exemplo que o próprio Hume utiliza, o do nascer do Sol. A pergunta é a seguinte: será que, com uso unicamente da ciência, podemos honestamente afirmar que é certo que o Sol nascerá amanhã? A resposta honesta (e constrangedora para o ateísmo) que todo físico conhece é: não, não podemos. É pela fé que a ciência aposta alto no fato de que o Sol, sim, nascerá amanhã.

Sei que nós (veja que me incluo) também fazemos esta aposta sobre o nascimento do Sol. Mas o fato é que temos de aceitar que, quando investigamos a questão ao extremo, a expectativa que temos no nascimento do Sol não pode ser atribuída a elementos como lógica, método científico, razão, etc. Não, é mesmo questão de fé.

A fé que o cientista tem na indução é, em última instância, uma fé em Deus. Em certo sentido, pensar seriamente ciência só é possível em uma visão de mundo teísta.

O cientista ateu pode dizer: não, eu não creio que Deus existe, mas, assim como você, tenho expectativa que o Sol nascerá amanhã. Nesse caso, a fé dele seria em quê? Certamente, na uniformidade das leis da natureza. Tanto na uniformidade espacial (a física que acontece aqui acontece no país vizinho), quanto principalmente na temporal: o cientista tem fé que as leis da natureza que funcionaram ontem e hoje funcionarão amanhã.

A incoerência aparece quando o cientista para por aí. Ou seja, a uniformidade das leis não é algo que possa ser demonstrado, não é auto-evidente, nem mesmo pode-se dizer que ela provém do mundo material. Ora, conforme sabemos, podemos criar modelos matemáticos de leis naturais que não ocorrem na natureza, pois o próprio mundo material poderia se arranjar de forma que as leis fossem outras. O fato da física ser como é não quer dizer que ela não poderia ser completamente diferente. Não há, portanto, necessidade nem na uniformidade das leis, nem mesmo nas próprias leis.

Então, todos os cientistas ateus ficam com a seguinte dúvida: se a uniformidade das leis da natureza é algo que não posso explicar de nenhuma forma, mas que tenho de crer nela para tudo o que faço em ciência, então como ela surgiu?

A experiência nos diz que onde há leis, há legisladores. No caso do Cristianismo, não apenas a experiência, como também a Bíblia registra que Deus é aquele que mantém as leis uniformes, para que possamos entende-lo e os seus propósitos. No livro de Hebreus (11:3 e 1:3, respectivamente), temos a segurança de que Deus não apenas criou o universo, mas também o sustenta, o mantém pela palavra de seu poder. Passagens como as de Gênesis 8:22, Salmos 74:16-17, e Jeremias 31:35-36, entre outras, trazem o mesmo significado.

Assim, vimos que a indução é um problema que ciência, quando tira Deus da equação, não soluciona. Apenas a existência de Deus é que dá sentido à prática científica, é que explica por que podemos esperar que as leis de hoje se repetiram amanhã. Apenas com Deus, podemos ter a certeza real de que o Sol nascerá amanhã, tanto na física como principalmente em nossas vidas.

(*) Para os que inadvertidamente acham que Popper resolveu o problema da indução, sugerimos o estudo da tese Duhem-Quine. Não entraremos no assunto aqui, por fugir do objetivo do post, mas caso haja dúvidas sobre isso, por favor não hesite em expô-las nos comentários.

Obs: Tassos Lycurgo é presidente do Defesa da Fé Ministério (defesadafe.org) e do Faith.College, pastor da Igreja Defesa da Fé em Natal – RN, ordenado pelo RMAI (EUA), advogado (OAB/RN), professor da UFRN no Programa de Pós-graduação em Design, professor do RBT College (Guatemala), professor convidado do RBT College (EUA) e professor visitante da Oral Roberts University (EUA, 2012-2015). É Pós-Doutor em Apologética Cristã (ORU, EUA) e em Sociologia Jurídica (UFPB), PhD em Educação – Matemática/Lógica (UFRN), Mestre em Filosofia Analítica (Sussex University, Inglaterra), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (UNIDERP), Graduado em Direito (URCA), Filosofia (UFRN), Liderança Avançada (Haggai Institute, Tailândia), Ministério Pastoral e Estudos Bíblicos (RBT College, EUA), tendo também estudado na Noruega. Publicou nove livros, sendo o último deles: “Job. Betrayed by God? Delivered to the Devil?”, cuja publicação para o português se deu pelo título “Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo?”

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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