Pastoral trabalha na recuperação de menores *

Há seis anos a Pastoral do Menor de Santarém (PAMEN), que pertence à Igreja Católica, trabalha na recuperação de meninos e meninas de rua. São atualmente 400 crianças, entre meninos e meninas na faixa etária de 5 a 18 anos de idade, que recebem tratamento espiritual através da leitura da bíblia, orações, conselhos e até alimentação. Além disso, eles tem a oportunidade de desenvolver alguma atividade profissionalizante como a confecção de caixas para engraxar sapatos, trabalhos com serigrafia e criação de hortas, além de tarefas domésticas. Através do trabalho, conseguem se aproximar mais de Deus e retornar a sociedade vivendo como cidadãos decentes.

Fundada em 17 de fevereiro de 1988 pelo irmão Ronaldo David Hein, a pedido de Dom Tiago, bispo de Santarém na época, a Pastoral do Menor começou os trabalhos numa sala atrás da igreja Nossa Senhora da Conceição. Inicialmente foram atendidos aproximadamente 20 menores. O trabalho foi se desenvolvendo, fazendo com que esse número aumentasse, obrigando a transferir o atendimento para área coberta do Colégio Dom Amando. O numero de 400 menores que hoje são atendidos na Pastoral é correspondente a capacidade máxima da instituição.

A diretoria da PAMEN é formada por sete membros, composta pelo irmão Ronaldo Hein (Coordenador), Inês Pinho de Carvalho (Vice Coordenadora), Deucler José Pedroso (Secretário), Domingos Teixeira Pinto, (Tesoureiro) e mais três educadores de rua. Além desses membros, existe o Conselho Executivo formado por João David Miléo, Darenice Coimbra Dantas, Otavio Simões e Ana Elvira  Alho Teixeira. A vice-coordenadora Inês de Carvalho, disse que o trabalho desenvolvido pela PAMEN conta com a ajuda de obreiros, que são ex-meninos de rua que passaram pela instituição e foram recuperados.

Inês explicou ainda que os trabalhos com os menores começam com um aconselhamento bíblico, logo que estes entram na instituição. Este trabalho espiritual faz parte da primeira parte da terapia ocupacional onde o(a) menino(a) aprende alguma tarefa caseira como cozinhar, varrer o quintal, servir as refeições e regar a horta existente na instituição, além de desenvolver as atividades profissionalizantes. Estas atividades não só servem como terapia como também são uma forma de se obter uma parte da alimentação consumida pela instituição, que luta com recursos da comunidade, da Diocese de Santarém e de alguns empresários.

Etapas – Os(as) meninos(as) ao chegarem na PAMEN passam por três etapas de tratamento: adaptação, disciplina e ressocialização. A primeira significa os primeiros contatos com o regulamento da instituição. “O menor passa, a saber, e seguir os regulamentos. Ele tem hora para trabalhar, estudar, orar e brincar. Isto faz com que ele assuma responsabilidades”, disse Inês. Na segunda fase o menor se torna um discípulo e aprende os preceitos bíblicos colocando-os na prática. A terceira é quando ele já esta totalmente ressocializado. Como é o caso do menor das iniciais M.J.S.S, 16 anos, que aos 5 anos passou a trabalhar de “avião” para os traficantes, vendendo todo tipo de droga, como maconha,  cola de sapateiro e outras mais. Por causa disso, fugiu de casa e passou a morar na rua, onde aprendeu a roubar. Aos 10 anos, ele conheceu a PAMEN e hoje está totalmente ressocializado. “O tratamento que recebi aqui na PAMEN é melhor que o de casa. A sociedade muita das vezes é a grande culpada, pois quando estamos quase recuperados, somos discriminados”, declarou. Hoje, ele vive no anonimato e sob proteção da PAMEN que teme por sua morte como queima de arquivo.

 Nessa fase, o menor ganha confiança e poderá ser um dos obreiros. Mas mesmo assim tem que obedecer à risca esta trajetória. Se desviar do caminho e voltar a praticar novamente delitos, ele será chamado para uma nova chance. “Isso depende muito da força de vontade do menor e da ajuda da própria família e da sociedade em querer mudar de vida, caso contrario é muito difícil recuperá-los”, afirmou Inês.

Ela disse ainda que com essas etapas, os menores aprendem a respeitar as regras que são rígidas. Uma delas é a proibição da entrada de produtos de roubos e drogas na instituição. Há casos tristes de menores praticamente irrecuperáveis, como o da “Rosinha” que já foi acolhida há muito tempo pela Pastoral, mas hoje ainda vive praticamente dos mais diversos delitos. Nos últimos dias, ela teve o seu nome envolvido no assassinato de um menor integrante de gangue.

Causas – São muitas as causas que levam essas crianças a ganharem a rua. Elas podem ser: carência de amor na família que está desestruturada; situação da crise econômica e a violência em que se encontra o país. O menor M.J.S.S é um exemplo de uma criança que ganhou as ruas, devido a desestrutura da família. Ele tinha os pais alcoólatras. Inês contou ainda que dos 500 menores que já passaram pela PAMEN, um total de 100 foram recuperados, ou seja, um pouco mais de 20 por cento. Isso é  muito pouco do que se pode fazer pelos meninos de rua. É preciso que haja uma ação conjunta entre a comunidade e o governo para que os menores possam ser mais bem atendidos. E que os recuperados sejam aos milhares. Pois cada um que é reintegrado ao meio social será mais um a contribuir para um país melhor.

*Jornal Gazeta de 25/08/1994

Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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