As eleições municipais são um grande movimento
de mobilização social e de discussão dos
verdadeiros interesses que movem nosso país,
a partir das nossas cidades.
Quem acompanha os movimentos da política local, a partir das nossas cidades, depara-se com um dos maiores dramas dos políticos na atualidade: a autenticidade.
Para se eleger ou para se manter no poder, os políticos usam estratégias e acordos escusos, invisíveis e imperceptíveis à maioria dos cidadãos e cidadãs. Por isso mesmo, a maioria dos políticos falam o que a maioria do povo gostaria de ouvir e age como a maioria gostaria que agissem. Resta saber se há espaço para ser autêntico na política? Ou: como seria viver autenticamente a política?
Vez por outra, conhecemos alguns aspectos mais verdadeiros dos nossos políticos. Como nem sempre estão sob o manto dos estrategistas e assessores, revelam o que são ao falarem e agirem a partir de suas convicções e sua personalidade. Revelam-se como verdadeiramente são. Infelizmente, pesam preconceitos contra aqueles que, na vida pública, dizem o que pensam e agem a partir de suas convicções.
A política é uma atividade de risco, porque impregnada de liberdade. E liberdade sempre é risco. O problema é que, com a profissionalização da política, esta liberdade é cada vez mais calculada e medida. Por isso que o maior temor dos políticos quanto à sua autenticidade tem sido perder votos (quando estão candidatos) ou perder o cargo (quando ocupam cargos de confiança). E então, sofremos (ou votamos ingenuamente) porque não conhecemos quem são e o que de fato defendem muitos dos nossos políticos.
Muitos políticos não conseguem disfarçar o que são e o que pensam. Ainda bem, pois é a chance de conhecermos os mesmos como eles são!
Raramente, vemos um político com a grandeza de reconhecer os seus erros. Os acertos são destacados, os erros são escamoteados. Como esperar autenticidade sem o reconhecimento de erros? Como serão autênticos os políticos se não forem capazes de nos revelar os verdadeiros interesses que os movem?
A arena da política sempre é permeada pela disputa de interesses coletivos ou pessoais. Como disse o imperador Napoleão Bonaparte, “todo homem luta com mais bravura por seus interesses do que por seus direitos”.
A morte da política ocorre quando ela deixa de ser espaço autêntico de disputa de ideias e interesses e se torna lugar de sondagem, de pesquisa de satisfação do eleitor ou do cidadão.
De certo modo, nós cidadãos e cidadãs já matamos a política quando achamos que é perder tempo conversar sobre as questões da coletividade em nossas famílias, em nossas escolas, em nossos condomínios de prédios, em nossos sindicatos, clubes ou associações.
As eleições municipais são um grande movimento de mobilização social e de discussão dos verdadeiros interesses que movem nosso país, a partir das nossas cidades. Em uma democracia representativa, os mais preparados são os mais autênticos e mais fiéis a si e aos interesses que representam. Enganam-se aqueles que tentam enganar a gente.
Uma boa eleição a todos e todas! 13/11/2020
Obs: O autor é professor, escritor e ativista em direitos humanos, desde Passo Fundo, RS