Bernadete Bruto 15 de janeiro de 2021

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Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 29 de abril de 2020.

 XXI

Velha e solitária nunca parei em casa. Agora, sem alternativa, estou encerrada em casa e não sei quando sairei. Meus filhos, cheios de cuidados, não me deixam sair e me enviam tudo que preciso. Não pude ficar com eles, porque não sei direito…embora nada me falte, estou confinada e só.

Trancada neste apartamento, sou obrigada a alguns serviços diários, entre eles, aguar as plantas da varanda. Interessante é que não sei se estou aguando no mesmo horário daquele senhor do apartamento defronte que fica sentando lendo o jornal. Mas já notei que ele faz questão de  me cumprimentar. Inclusive entendi pelo sinal que fez, coms os dois dedos entre uma orelha, que quer meu telefone… ai, ai, pelo visto e pela minha animação em aguar as plantas mais de uma vez ao dia, acho que terei um isolamento muito divertido. Quero ver a cara de meus filhos quando descobrirem que tudo que me aguarda no futuro não é a solidão. Bichinhos… tenho pena do futuro deles, porque já conversei online com meu advogado e garanti o futuro de outros. O meu já promete!

                                                                                     ***

XXII

Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 2 de  Maio de 2020.

O fato é que seu cabelo era curto quando começou a pandemia e agora está todo esconso. Já cortou a franja, na semana passada e hoje resolveu arriscar e meter a tesoura.  Antes, foi para o youtube assistir aulas de corte de cabelo. Fez algumas pesquisar e partiu para o corte. Nada a reclamar de seu novo estilo moicano pós-moderno cheio de buracos…ninguém vai ver… afinal até terminar essa longa quarentena terá treinado bastante…

***

XXIII

Recife, Rua Afonso Celso, 182- AP.902 – Tamarineira, 5 de  Maio de 2020.

Quando chegou o isolamento e os pegou de supetão, olharam-se pela primeira vez em muitos anos… Há tempos não se suportavam…Nem mais se falavam. Nos últimos tempos, apenas uma coisa em comum acordaram que seria a separação… e aí chega a quarentena e graças a ela reaprenderam a se olhar, a colaborar um com o outro, a fazer as coisas juntos, a cuidarem um do outro e me meio ao tumulto lá fora da pandemia, ali, naquele apartamento, reinava a paz e o amor.

Obs: A autora é poeta performática, membra da União Brasileira de Escritores (UBE), da Associação dos Amigos do Museu da Cidade do Recife (AMUC), parceira da Cultura Nordestina Letras e Artes. É integrante dos grupos “Confraria das Artes” e “Grupo de Estudos em Escrita Criativa”. Seus três primeiros livros publicados são coletâneas de poemas, Pura Impressão (2008), Um Coração que Canta (2011), Querido Diário Peregrino (2014). Seu quarto livro trata do gênero infanto-juvenil e é bilíngue: A menina e a árvore – The girl and the tree (2017). Seu quinto livro- Sessenta e um Poemas Para Uma Vida –  foi lançado em 2019. Tem participação em várias apresentações poéticas e performáticas. Contatos: www.bernadetebruto.com e [email protected]

Imagem da autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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