Ok aqui vai uma grande verdade sobre sentimentos: sentimento não é algo que apenas brota, assim do nada. Sentimento não responde aos comandos da racionalidade. Psicólogos, psiquiatras e estudiosos tentam por séculos (em vão) entender o que motiva, inspira, move um ser humano; quais são as razões por trás do amor; por que gostamos de quem gostamos; ou ainda, por que não gostamos de quem não gostamos. Mas não dá para ficar explicando o que sentimos.
Eu acho que a turma do “politicamente correto” e os ensinamentos de Jesus, Buda, Lamas e afins criaram um monte de gente frustrada com esse papo de amar o próximo e ter compaixão. Sim, tudo isso é muito lindo, em teoria. Seria bom se pudéssemos amar todo mundo, mas sério, sinto em desapontar as Madres (e Padres) Teresas de plantão, não dá. E aliás, retiro o que disse, não seria bom não, o mundo seria um saco. E acho um saco também tentar plagiar, fingir, bloquear ou fabricar sentimentos, seja através de remédios, mentiras e falsidades. Não adianta, sentimento não se fabrica, nem pirateia e arriscaria em dizer que também não se compra (apesar de alguns acreditarem que sim).
Tem gente que a gente não consegue gostar, pode ser por coisas banais, tipo o perfume, o jeito de falar, ou pode ser por motivos mais compreensíveis. E o contrário também existe, existem pessoas que a gente ama, simplesmente porque ama. E existem aqueles amores que transcendem as intempéries do tempo, da distância e de qualquer racionalização e que mesmo que a gente não queira mais amar, ainda assim amamos. E não se engane, não tem como amar igual pessoas diferentes, cada pessoa amamos ou odiamos, ou amamos e odiamos de um só jeito.
Um dos filmes que mais gosto é o “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, eu, assim como muitos, também coleciono histórias de amor que gostaria de esquecer. Por muito tempo achei que seria bom se existisse mesmo um procedimento onde pudéssemos apertar a tecla “delete” assim como fazemos online. Mas um dia finalmente entendi que sentimentos não brotam e também não morrem.Eles se transformam, transmutam, expandem ou encolhem, mas não desaparecem simplesmente assim como os amigos no mundo virtual. Bloqueie, delete, apague. Eles permanecem vivos. Portanto é preciso senti-los. Inclusive os “ruins”.
Então aprendi a aceitá-los. As brigas e mal entendidos, dramas e corações partidos que colecionei; os amores mal acabados, as histórias de amor que não tiveram um bom desfecho, as boas e más escolhas, os encontros e desencontros, aquela história mal resolvida e que não adianta, não terá resolução (tudo bem, fica para uma próxima vida…). Talvez nem todos os finais sejam felizes como nos contos de fadas, mas isso também vai depender da leitura que fazemos deles.
Nesse tempo aprendi também a respeitar aqueles que não me querem bem, não faz mal, as pessoas têm esse direito, afinal é um mundo livre (é o que dizem). Aprendi a aceitar também que nem todos vão gostar de mim e não gostarão, mesmo que eu mude de perfume ou o tom de voz. Assim como eu também não gosto de alguns (pô, foi mal aí Jesus!).
Pois é, sentimentos não brotam, por mais que você se esforce, assim como, nem com o maior esforço do mundo, alguns não morrem. Portanto a única solução é senti-los. E se tem uma coisa que aprendi nesses anos de vida é que para o que sentimos não tem bloqueio, nem tecla “delete”, não tem “desfazer amizade (sentimento)”. Sentiu? Sinta.
Por mais que tentemos apagar o passado ou esquecer alguém, tem lembranças que permanecem latentes, nos assombrando, esperando um momento de descuido para entrar por entre as frestas daquela porta que chaveamos com toda a nossa vontade. Pelas gavetas empoeiradas as lembranças surgem, seja numa música que invade os nossos ouvidos, ou em uma frase, talvez naquele álbum antigo de fotos, em uma carta perdida em meio aos livros, quem sabe em um sonho. Elas vêm assim mesmo, de repente, sem avisar.
E é mesmo nessa pequena fração de tempo do “de repente” que vivemos a eternidade que habita no que muito sentimos. Nessa hora, quando a saudade bate, quando as lembranças vêm, a única saída é sentir, sentir muito, sentir até o fim; sentir enquanto elas insistem em serem sentidas. Mesmo que doa nos ossos, na carne, no peito. O medo, a raiva, a tristeza, a alegria, o amor existem para serem sentidos.
Então mesmo que pareça “errado” gostar ou não gostar de alguém, ainda assim, permita-se. Então sinta. Sinta muito. Isso é algo somente teu, não diz respeito à mais ninguém (nem mesmo à pessoa por quem sentimos). Porque as dores nos fazem mais fortes e os amores nos fazem melhores.
Um dia li uma frase que me marcou muito, uma boa reflexão para a vida: “as pessoas vão esquecer o que você fez, as pessoas vão esquecer o que você disse, mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir”.
Por bem ou por mal, sinto muito, mas assim é.