Chegou como se chega após uma tarde de amor ilícito.
Rosto afogueado, mal escondendo a excitação. Na boca, gosto de alegria. Na pele, o bendito suor da descoberta. E uma dúvida a roer-lhe mãos e unhas: mentir, omitir ou falar logo tudo de uma vez.
Mentiria, não fosse o prazer de ver sua prepotência destruída. Omitiria, se a expectativa dos próximos dias não estivesse em ebulição. Atravessara a ponte. Não havia mais volta. Libertara-se. Nunca mais seus olhos olhariam pelos dele.
Nunca mais os pés fariam o mesmo caminho. A primeira dama virara última puta.
De banho tomado – sem ter lavado o cheiro da novidade –, o esperou ainda sem saber o que dizer. Ao vê-lo entrando, gravata e altivez, negou-se ao beijo automático. Era hora de se assumir:
– Nas próximas eleições, também serei candidata. Pelo partido de oposição.
Com Maquiavel debaixo do braço, deu-lhe as costas. Foi ver o noticiário.
Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Nesse ano, 2020, publicou seu primeiro livro de contos – O Insuspeitável perigo do instante-beijo e outros contos –